"Em briga de saci, qualquer chute é voadora" Ditado caipira
Já faz uns três anos que comecei a acreditar em Saci e deixar minha imaginação atribuir a esse mito caipira algumas peças de que somos vítimas no cotidiano.
Desse modo ficou mais fácil saber quem trocou o sorvete por feijão no pote que estava no congelador, quem jogou água no chão do banheiro pra eu pisar de meia, quem desmarcou a página do livro que estava lendo ou quem empurrou minha mão na hora que eu estava abrindo o iogurte e fez o papel rasgar no meio. Isso sem falar nos inúmeros pés de meia perdidos, que ele levou pro meio do mato junto com aquele guarda-chuva que eu tinha certeza que estava no carro.
Passei a me divertir mais com essa história. Quando vejo um cavalo correndo em disparada sozinho, tenho certeza que em cima dele estava o saci, cavalgando feliz com sua traquinagem.
Comecei a me interessar por sacis quando ele se tornou um símbolo da resistência caipira contra a invasão mitológica gringa. Em São Luiz do Paraitinga criaram a Sosaci, sociedade dedicada a observar sacis. Que lindo poder falar para os outros que você viu um saci sem o menor constrangimento! Uma das vitórias do movimento foi a aprovação de lei estadual em São Paulo oficializando o dia 31 de outubro como o dia do saci. Com o halloween crescendo absurdamente, é interessante ver a data como uma oportunidade para relembrar nossos monstros da mitologia caipira.
Para quem gosta do assunto, recomendo vivamente o principal livro sobre sacis: "Saci-Perere: o Resultado de um Inquérito", do Monteiro Lobato. Publicado em 1918, o livro é resultado das cartas de leitores do Estadão com depoimentos sobre o Saci. Logo depois, em 1921, Monteiro Lobato lançou o infantil "O Saci", que também é ótimo, um verdadeiro dicionário das lendas rurais do Brasil.
A última grande aparição na mídia do Saci foi a campanha para que fosse escolhido mascote da Copa de 2014. Infelizmente não rolou, mas é legal ver que seu mito tem sido redescoberto e revalorizado. Quem sabe um dia não veremos tantos sacis no Brasil como Leprechauns na Irlanda?
Para finalizar, aqui vai a tatuagem de uma grande amigo, caipira também do Vale do Paraíba e um dos caras que mais entende de educação que já conheci, Daniel Leite:
"Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas."
Mario Quintana
Quando se fala em funcionário público, uma das primeiras coisas que vêm à cabeça é a famosa estabilidade. O que para muitos é sinônimo apenas de estabilidade financeira, às vezes ganha novos contornos. Para mim, há uma estabilidade fundamental, que por muito tempo ansiei: a estabilidade literária, ou "poder ler o que quiser e quando quiser".
Comecei a gostar de ler meio tarde, no meio do 3° colegial, mas depois veio faculdade e concurso e acabei lendo muita coisa por obrigação. Hoje valorizo muito a sensação de chegar na livraria e escolher o livro por pura curiosidade, sem ter que resumir ou fazer fichamento porque serei cobrado. Claro que esse período não durará muito, pois em pouco tempo novos cursos virão e terei de me debruçar em leituras obrigatórias. Por isso, quis aproveitar essa boa fase em 2012 para ler autores novos e temas que nada têm a ver com o trabalho.
Acredito que essa sensação é compartilhada por muitos colegas do Itamaraty, por isso pedi pra quem encontrei online no Fb que me indicassem seus destaques de 2012. Com cada um morando em um canto do mundo e com interesses diversos, o resultado pode ajudar quem quer ler coisa nova. Não foram poucas as vezes que conversei com colegas que aumentaram muito sua carga de leitura no exterior, até pela escassez de opção de lazer em alguns lugares. Parafraseando novamente Mario Quintana: "O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado". Quem mora em lugares sem muitas livrarias sabe a felicidade que é ver o pacote da Amazon na porta de casa!
Agradeço desde já a colaboração de cada um pro blog! Vamos lá para lista, com nome e lugar em que mora hoje em dia. Tem gente que indicou mais de um livro e, como o importante é passar informação, aí estão todos:
Rodrigo Papa (Brasília)
"Travessuras da Menina Má", Mario Vargas Llosa
"Rio das Flores", Miguel Sousa Tavares
Marcela (Japão)
"1Q84", Haruki Murakami
Sarah (Brasília)
"Maus", Art Spiegelman
Paulo Thiago (Brasília)
"Teoria Geral do Esquecimento", José Eduardo Agualusa
Igor (Brasília)
"Desde que o Samba é Samba", Paulo Lins
"A Confissão da Leoa", Mia Couto
Fabiano (Argentina)
"A Short History of Byzantium", John Julius Norwich
Diego Kullmann (Paraguai)
"Relampagos", de Ferreira Gullar
"Tractatus Logico-Philosophicus", Wittgenstein, (edição de 1968, com
tradução e apresentação (excelente!) de José Arthur Giannotti.) *nota do Diego
"Bim Bom- A contradição sem conflitos de João Gilberto", Walter Garcia
Edson (Angola)
"Naturaleza, Historia, Dios", Xavier Zubiri.
Luiz Gustavo Bacharel (Brasília)
"Apologia de Sócrates" e "O Banquete", Platão
"Quintal de Memórias", Tufy Habib
Fabiana (Brasília)
"A Queda dos Gigantes" , Ken Follet
"O Inverno do Mundo", Ken Follet
Helder (Brasília)
"The Inner Game of Tennis", W Thimothy Gallway
Daniel (Haiti)
"Travesty in Haiti", Timothy Schwarz
"Os Crimes de Napoleão", Claude Ribbe
"A Ilha sob o Mar", Isabel Allende
Vicente (Brasília)
"Proud to be a Mammal", Czeslaw Milosz
Joaquim (Peru)
"The Passage", Justin Cronin
Miguel (Holanda)
"Le Monde d'Hier", Stefan Zweig
"El Sentimiento Trágico de la Vida", Miguel de Unamuno
Daniella (Azerbaijão)
"The Shock Doctrine - The Rise of Disaster Capitalism", Naomi Klein
Ramiro (Irã)
"Jerusalem: a Biography", Simon Sebag Montefiore
Paulo Augusto (Brasília)
"On China", Henry Kissinger.
Caio (Kwaite)
"Pornopopeia", Reinaldo Moraes
"O Império é Você", Javier Moro
Rafael Paulino (Tailândia)
"Chabadabadá", Xico Sá
Irineu (Uruguai)
"Viajes y otros viajes", Antonio Tabucchi.
Maria Luiza (Brasília)
"HABIBI", Craig Thompson
"Persépolis", Marjane Satrapi
Paulo Henrique (Namíbia)
"The Kaiser's Holocaust", David Olusoga
"My Father's Country: Story of a German Family", Wibke Bruhns
Alex (Síria)
"A Visit from the Goon Squad", Jennifer Egan
" The Hunger Games", Suzanne Collins
Nil (Brasília)
"O Triunfo do Fracasso", Rüdiger Bilden
" O Amigo Esquecido de Gilberto Freyre Freyre", Maria Lúcia Garcia Pallares-burke
Filipe Abbott ( Brasília)
"Arte da Política", Fernando Henrique Cardoso
André (Eslovênia)
"After Dark", Haruki Murakami
Juliana (Quênia)
"Orlando", Virginia Woolf
Ezequiel (Brasília)
"10 dias que Abalaram o Mundo", John Reed.
Marcelo Gameiro (Brasília)
"London Triptych", Jonanthan Kemp
"Nemesis", Phiip Roth
"Rock Creek Park", Simon Conway
"Snowdrops", Andre Miller
"The Sense of an Ending", Julian Barnes
"Murder at the Windsor Club", Stephen Stanley
Paulo Cezar, vulgo eu mesmo (Paraguai)
"Eu receberia as piores notícias dos seu lindos lábios", Marçal Aquino
"Eu acredito demais na sorte e tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho." Thomas Jefferson
Hoje vou quebrar uma das regras deste blog que era não falar do trabalho, mas depois de responder pela 10ª vez a pergunta do título do post eu precisava desabafar.
Mesmo passado algum tempo da aprovação no concurso do Rio Branco, de vez em quando aparece algum amigo de amigo que quer dicas sobre como passar na prova. No meio de perguntas gerais surgem umas mais engraçadas. Para uma amiga perguntaram se precisava tocar piano e para mim já perguntaram umas três vezes se tem mesmo que morar na África. Eu juro que respondo a todos com a maior boa vontade, até que vem a famosa pergunta, presente em 9 de cada 10 emails de candidatos: "É preciso estudar muito?"
A vontade inicial é responder que não precisa, pois, assim como a Telesena, são aprovados os que fazem mais e menos pontos na prova. Mas, como eu sou vice-campeão do Prêmio Nobel da paciência- perdendo apenas para o Dalai Lama (injustamente, porque ele nunca foi casado)- acabo respondendo que sim, precisa.
O que me dá um pouco de incômodo é pensar que por trás de "É preciso estudar muito?" ou "Precisa ler tudo mesmo?" existe um claro desejo de obter uma aprovação sem esforço, com jeitinho.
Lembro quando tive minha primeira reprovação no concurso e fui chorar as mágoas com minha professora de inglês. A conversa que tive foi muito importante para rever meu conceito sobre aprovação e reprovação. Ela me fez entender que não deveria pensar que fui reprovado, mas, sim, que não havia ainda adquirido o conhecimento necessário para exercer a carreira diplomática. Parece uma "tucanização" da reprovação, mas há uma filosofia interessante por trás disso. A prova nada mais é do que um reflexo do seu conhecimento sobre os temas que o Ministério acha necessário que um servidor tenha minimamente. Se você ainda não os tem e não quer estudar muito para adquiri-los, porque querer entrar na carreira? Perguntar se precisa gostar de estudar pra ser diplomata é mais ou menos perguntar se precisa gostar de correr para ser maratonista. Não que todos diplomatas sejam apaixonados por estudar e façam isso nas horas vagas, mas são pessoas que tiveram a clara consciência de que em uma fase de suas vidas foi preciso concentrar-se em estudar para adquirir o nível de conhecimento exigido pelo trabalho que escolheram.
Nós geralmente temos uma visão muito negativa de provas, pois as encaramos como carrascos prontos para nos derrotar de forma injusta. Dificilmente as vemos como uma forma de medir o conhecimento que adquirimos durante os meses de estudo. Acredito que elas nada mais são do que isso, simples termômetros. Essa desmistificação da prova é fundamental, pois nos permite focar no que realmente importa, que é a nossa preparação e nosso estudo. Quanto mais você estudar, mais confiante fica e menos chance haverá de cair algo que você não sabe. Aquela máxima "não existe questão difícil, você que estudou pouco" é cruel, mas não deixa de ter um fundo de verdade.
Uma teoria que apliquei e funcionou muito bem pra me ajudar a ter o equilíbrio emocional necessário é pensar em cada matéria como um balde a ser preenchido com areia. O concurso então tinha 9 matérias, que seriam 9 baldes que eu deveria preencher com pelos menos 60% de areia (conhecimento) cada, para então ingressar "naturalmente" na carreira. Alguns baldes, como o de Inglês, exigiam mais dedicação e tempo para serem preenchidos; outros, como História e Geografia, eu já vinha da faculdade com algum conhecimento e por isso precisei de menos esforço pra chegar aos 60 - 70%. Pensar dessa maneira me permitia focar na preparação para exercer a carreira e evitava que eu concentrasse meus pensamentos negativamente na dificuldade da prova.
Para finalizar o post-desabafo, acredito que no Brasil ainda temos uma imagem muito negativa dos estudos. Temos medo de ter de estudar para alcançar algum objetivo. Desde a escola lembro que aqueles que estudam, prestam atenção nas aulas e vão bem nas provas são alvos de brincadeira dos amigos. Quem nunca zuou um cdf aqui? Na Coréia do Sul, ao contrário, os campeões das olimpíadas de matemática são ídolos nacionais. O reflexo disso na sociedade é claro e não preciso me alongar.
No começo, quando me perguntavam da dificuldade do concurso, eu tentava não parecer pedante ao dizer que é muito difícil. Hoje me sinto mais confortável e digo que sim, que exige muita dedicação e preparação, com a consciência de que isso não me faz ser melhor nem pior do que ninguém. Sou apenas alguém que dedicou alguns anos da vida a apenas estudar e por isso alcançou o que queria, como ocorre com um atleta que compete melhor porque treinou o um cantor que canta melhor porque praticou, e assim por diante.
No pain no gain!
Para saber mais sobre o concurso e a carreira ai vão alguns links interessantes:
"Moda bem tocada é aquela que desperta em nós uma saudade que a gente nem sabe do quê"
Abaeté Renato Andrade
A frase do violeiro Abaeté Andrade, citada no livro "Música Caipira", do jornalista José Hamilton Ribeiro, explica muito do meu fascínio pelas músicas paraguaias cantadas em guarani. Apesar de não entender quase nada da letra, elas sempre me despertaram uma saudade, pois me pareceram, desde o princípio, muito similares às músicas caipiras de raiz que desde pequeno ouvia com meu avô.
Apesar de não ser um especialista em música e só saber tocar campainha, me arrisco a dizer que o sucesso do nosso sertanejo pode ter origens em músicas "made in Paraguay".
Segundo o livro de José Hamilton Ribeiro (meu repórter preferido do
Globo Rural!), a nossa música caipira tem origens nas tradições dos
cancioneiros ibéricos. Foi por meio dos jesuítas que penetrou em nosso
território, como forma de catequizar os indígenas. Assim se passou
também no Paraguai. Com temática e instrumentos em comum, nos dois
territórios o elemento ibérico fundiu-se com a cultura indígena
produzindo músicas que acredito serem muito similares.
Além dessa similaridade mais antiga, muitas músicas que
acreditamos serem grandes sucessos caipiras do Brasil tiveram sua origem no Paraguai. São traduções de guarânias e polcas,
ritmos típicos daqui, que influenciaram vários artistas brasileiros na
segunda fase do desenvolvimento da música caipira, pós-Segunda Guerra. O marco da entrada das guarânias na canção popular brasileira foi o disco de Cascatinha e Inhana, na década de 1950, com os sucessos paraguaios "India" e "Meu primeiro amor". Foi o disco caipira de maior vendagem até então, tornando-se grande influência para a geração seguinte. Eis aqui a dupla cantando música caipira "made in Paraguay":
O verbete da wikipedia sobre
guarânias traz um tópico sobre as músicas brasileiras cantadas nesse
ritmo. Até o clássico "Fio de Cabelo" encontra-se lá:
Para finalizar a seção de guarânias em português, aqui vai minha seleção preferida, cantada por Bruno e Marrone, e a guarânia "Saudade", de autoria do ex-Embaixador brasileiro em Assunção, Mário Palmério:
A música paraguaia mais famosa no
Brasil não é uma guarânia, mas sim uma polca paraguaia (na verdade, a guarânia é uma derivação da polca, que é mais acelerada). Estou falando de "Galopeira", primeiro sucesso de Chitãozinho
e Xororó, a dupla que levou o sertanejo ao grande público no Brasil.
Apesar do sucesso das grandes duplas sertanejas anteriores a eles, creio
que Ch & X foram, nos anos 1990, responsáveis pelo surgimento de um
público urbano para a música caipira. Abriram caminho para Leandro e
Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano e todos os outros que vieram e
estabeleceram o sertanejo como um dos principais gêneros musicais do
país.
Eis o original de Ch & X de Galopeira (nome de uma dançarina típica daqui), de autoria do paraguaio Mauricio Cardoso Ocampo:
Vamos a relação do Wikipedia de polcas paraguaias abrasileiradas:
No último show de Zezé di Camargo e Luciano em Assunção houve uma parte dedicada apenas a essas músicas, com participação de um grupo local. Zezé enfatizou a importância que as guarânias e polcas tiveram na sua infância musical. Já ouvi de várias pessoas que a música paraguaia era bem presente no Brasil em décadas anteriores. Uma pena que tenhamos ficado tão bitolados nas músicas em inglês e esquecemos de apreciar a beleza musical dos vizinhos.
Hoje o Paraguai é um grande consumidor de nossas músicas sertanejas, cujo sucesso devemos, em muito, aos próprios paraguaios e sua contribuição cultural.
Para quem quiser saber mais, eis um estudo interessante sobre a influência musical paraguaia no Mato Grosso do Sul:
Quando criei este blog o fiz com a intenção de falar apenas de episódios
alegres e felizes. Pensei muito se deveria escrever aqui sobre a despedida
inesperada do meu querido tio Waltão. Cheguei a conclusão que deveria sim
escrever, pois apesar de o falecimento ser dolorido, se tem uma palavra que
definiu meu tio desde as minhas primeiras lembranças da infância foi a alegria.
Estes dias, ao colocar essa foto acima na internet, ia escrever a legenda
"o tio mais querido da família", mas pensei que seria um pouco
deselegante com os outros. Não se passaram nem alguns minutos quando meu outro
tio também colocou uma foto do Waltão com a legenda "o membro mais querido
da família". E assim viveu meu tio, sendo o mais querido e amado por
todos.
Segundo nos contava, ele tinha sido "feito no navio", enquanto meus
avós vinham da Itália para viver no Brasil. Era divertido ouvir essa história.
Hoje ela faz todo sentido. Uma pessoa tão especial assim não pode ter sido
concebida em terra firme, como todo mundo. Foi certamente no mar, no meio da
viagem de mudança de vida de seus pais que, sem saber, trariam ao mundo um
filho que mudou a vida de todos que o conheceram, de um jeito especial e único.
Duvido que alguém já tenha ouvido a frase: "E o Waltão, como está?",
sem que a pessoa que perguntou tenha um largo sorriso no rosto. Sempre que
perguntavam dele era com alegria. E assim será para sempre. Sempre que nos
lembrarmos dele, será pela mais pura felicidade que o ser humano pode
transmitir.
Lembro de quando era pequeno e íamos visitá-lo em Taubaté e que descobri que
poderia perguntar qualquer coisa do passado que o Waltão saberia. Se não
soubesse, a resposta que ele dava com um largo sorriso no rosto era suficiente
para me alegrar. Da última vez que fui visitá-lo em Taubaté, meus olhos se
encherem de lágrimas ao ver o Alexandre descobrindo no tio-avô a mesma alegria, admiração
e carinho. Lembro exatamente do diálogo:
- "Wartão", quanto é infinito vezes infinito?
- Hummm não sei, não aprendi matemática.
E o
ambiente se encheu de risada, como acostumava acontecer. Guardarei esse momento
mágico para sempre. A descoberta pelo Lele de que o Waltão era especial, não
pelas dificuldades que tinha, mas pela pessoa que era e sempre será.
Foi-se o maior contador de histórias que já conheci. E como eu gostava delas.
Seu nome, Santos Emilio Walter Rotella, dizia que saiu de uma discussão etílica
entres os parentes para ver quem escolheria o nome de batismo. Acabou ficando
com três. Imagino como deve ter sido acirrada a disputa para nomear alguém tão único neste mundo. Um nome só realmente não bastaria.
Esse final de semana, quando chegou ao céu, certamente pediu a Deus para voltar
à década de 1960, para ver o futebol amador de Itajubá, os bailes de carnaval
do Itajubense, ver o Santos de Pelé, a Brigitte Bardot e tantas
outras coisas que amava do passado. Encontrou seu irmão mais velho e
seus pais. Está feliz, como sempre esteve. Poderá pedir de volta ao Garrincha
aquele cigarro que diz ter emprestado ao ídolo no bar do Vadinho. Verá Puskas
novamente com a bola e tantos outros jogadores do passado cujos nomes conheci
pela sua memória incrível.
É duro
entender por quê ocorrem essas idas inesperadas. Parece ironia saber que Waltão
peito-de-aço, como era chamado quando jovem, morreu do coração. Mas o que
conforta é saber que o coração sempre foi a parte mais linda do meu tio. Tenho
pra mim que ele vivia com o coração. Quem mais hoje em dia dá bom dia com um
sorriso quando encontra um estranho? Ou faz uma verdadeira festa para cada
reencontro? Só tendo muito coração para rir tanto da vida apesar das adversidades cognitivas que a vida o impôs.
Minha história preferida que ele contava era das vezes que "voltou a ser
criança". Foram duas: uma, quando era mascote do Azurra; outra,
quando inesperadamente voltou a ser criança quando sua mãe ligou a TV no Jornal
Nacional...
Querido Tio Waltão, nesse sábado você foi criança pela terceira vez. Nasceu de novo
e agora vive no coração de cada um que te encontrou nesta vida. Sempre te amaremos.
Estávamos meu filho e eu comendo amoras no pé em frente de casa quando ouvimos um grito:
- A amoreira é frágil, não é pra subir.
Desci da árvore e vi uma senhora caminhando com os cachorros. Lembrando-me daquela citação "Nunca discuta com um idiota. Ele te arrasta até ao nível dele, e depois vence pela experiência”, resolvi apenas retrucar:
-Bom dia pra senhora também.
Mas ela era insistente, como costumam ser os chatos.
- Você como adulto deveria saber que não pode subir na amoreira, tem que ensinar essa criança!
Fiquei quieto e esperei a bruxa continuar sua caminhada, imbuída do espírito de estragar o prazer alheio de quem encontrasse pela frente.
Como não pude retrucar, deixo aqui algumas perguntas que gostaria de ter feito:
Como ela quer que eu ensine a importância de cuidar das árvores sem ele ter conhecido o sabor de comer uma fruta no pé?
Como ela quer que eu ensine a importância de arriscar sem que ele descubra que as melhores amoras estão mais alto, onde ninguém quis ir?
Como ela quer que eu ensine a importância de tomar atitude e não esperar o mais fácil sem que ele perceba que embaixo da árvore já não há nada para comer?
Como ela quer que eu ensine a importância de fazer tudo com atenção se ele não escorregar num galho seco e cair?
Como ela quer que eu ensine a importância de cuidar da saúde se ele não aprender como dói levar uns arranhões caindo de um galho?
Como ela quer que eu ensine a importância de cuidar do que ele gosta sem que uma amora manche sua camisa favorita?
Como ela quer que eu ensine a importância de ter alguém em quem confiar sem que ele saiba que pode subir um pouco mais porque eu estou embaixo pra segurar?
Como ela quer que eu ensine a importância da imaginação sem que aquele galho distante só possa ser alcançado por um Indiana Jones como ele?
Como ela quer que eu ensine a importância do dinheiro sem que aquela folha de amoreira vire uma nota de 100 num passe de mágica e possa comprar 5 amoras pretinhas?
Como ele vai descobrir a importância de partilhar sem jogar umas amoras pretas que ele descobriu lá no alto para quem ficou embaixo?
Como ele vai descobrir o amor de infãncia sem a pergunta "você gosta de amora"?
Como ela quer que eu ensine como é importante cuidar do nosso bairro se é em cima da amoreira que vemos como é bonito o local em que a gente mora?
Infelizmente não tive a oportunidade de fazer as perguntas, nem de contar como na infância esperávamos ansiosos a época das amoras. De como voltávamos com a boca vermelha, camisas manchadas, pernas raladas e um saco de amora para fazer suco. Uma pena que talvez ela tenha aprendido lições de certo e errado apenas num banco de escola. Deveria ser obrigatório que todos tivessem aulas num galho de amoreira.
Se o máximo de contato com o mundo hípico que
você teve na vida foi torcer pro "malhado" ganhar as corridinhas
promovidas pelo Bozo na infância, talvez este texto possa te ajudar, caso o
amor tenha aparecido a cavalo para você:
Vamos começar pelo básico.
1) Como saber se ela é uma amazona?
A resposta é muito fácil. Basta entrar no
Facebook que provavelmente a foto do perfil será dela no cavalo, a foto do
mural será dela no cavalo e, se quiser garantir, repare nos perfis dos amigos
porque quase todos estarão a cavalo na foto.
2)Já sei que ela é amazona, e agora, o que pergunto?
É preciso bolar uma estratégia. Perguntar
"Você faz hipismo?" é um bom começo. O problema é perguntar que tipo
de esporte hípico ela faz. Não pergunte "Você faz tambor?" pra quem
faz hipismo clássico e vice-versa. Pode demonstrar total desconhecimento do
tipo de mulher com quem você está lidando. Melhor seria perguntar "Qual
esporte hípico você faz?" com a maior naturalidade possível, ainda que
você não saiba diferenciar o Rodrigo Pessoa do cowboy da Marlboro.
3) Surpresa: existem outras raças de cavalo além doMangalarga
Marchador!
Se esta é a única raça de cavalo que você conhece guarde para si a pergunta.
De cada 10 perguntas sobre o cavalo que ela já ouviu na vida de leigos no mínimo
9 foram se o cavalo é mangalarga marchador.
4) Será que ela já foi pras olimpíadas? Devo perguntar?
A resposta para ambas as perguntas é:
provavelmente não. Aqui outra dica importante. Como a maioria de nós só assiste
hipismo a cada 4 anos, ficamos com a sensação de que só existe nas olimpíadas.
Então é bom saber que nem todo mundo que pratica hipismo já foi ou irá para as
olimpíadas.Imagina você na balada dizendo para uma menina que você joga
tênis e ela te pergunta: Você já jogou em Roland Garros? Pois
é, a proporção é mais ou menos a mesma.
5) Baloubet du Rouet
Se você só lembra de hipismo por causa do refugo
do Baloubet nas olimpíadas de Sydney, saiba que ele foi um dos melhores cavalos
de salto de todos os tempos e que o erro foi do Rodrigo Pessoa. Colocar a culpa
no cavalo pelo mau desempenho do Brasil naquelas olimpíadas não será uma boa
aproximação na sua conquista da amazona. Aliás, depois da pergunta sobre a raça
do cavalo, essa deve ser a segunda pergunta mais ouvida por quem pratica hipismo.
6) Amazonas
Estava esquecendo! Amazonas é o estado, lá no
norte do Brasil, ou o plural de Amazona. Perguntar "você é amazonas?"
é meio analfabetismo geo-hípico e pode contar pontos negativos.
7) Será que ela é rica?
Seria meio hipócrita dizer que o hipismo não é um
esporte caro, até porque um cavalo custa mais que um par de chuteiras e uma
bola de capotão. Mas nem todos os praticantes têm dinheiro de sobra. Dizer que
alguém é rico por que tem um cavalo é como dizer que alguém é rico porque tem
um carro ou mesmo filhos. Os custos de manutenção são praticamente os mesmos.
Dependendo do cavalo, é claro.
Com um pouco mais de intimidade, você já pode
fazer perguntas mais bonitinhas:
8) O site do seu cavalo é .com .com .com .com
.com .com .com?
Adoro essa piada, apesar de ser mais legal
ouvindo do que lendo.
Uma vez conquistado o coração amazônico com essa
ótima piada, deve-se atentar para uma rotina de treino diário e finais de
semana na hípica. Vamos ao detalhe de uma vida a dois.
9) Prepare um espaço na casa para o material
de hipismo.
Bota, espora, capacete, chicote, luvas, casacas,
culotes, camisas, cinto e demais aparatos hípicos. Tudo isso exigirá um local
na sua casa. A sugestão é você manter um espaço seu com carvão, lenha, machado,
ferramentas, cervejas e afins para evitar que o espaço mais bruto e rústico da
casa seja mantido pela sua mulher.
10) Prepare um local para os troféus.
Hipismo dá troféus e essa é uma parte legal. Prepare
as prateleiras da casa!
Adendo: Nunca diga que o cavalo faz tudo sozinho.
O pessoal fica muito bravo. O cavalo ajuda muito, como carro na F1, mas se
alguém que não souber montar o cavalo, ele não passará nem o primeiro
obstáculo.
11) Você continuará matando os insetos pela
casa
Isto é incrível, mas você não demorará a descobrir.
Por mais que ela faça um animal de 500 kg pular correndo um obstáculo de mais de 1,30 metro, caberá a
você, companheiro, continuar matando os bichos voadores que apareçam na casa
porque ela tem medo.
12) Compre gelol
A expressão cair do cavalo vai ganhar novos
contornos na sua vida.Se você não gosta de mulher com uns roxos de vez
em quando é melhor largar mão logo.
13) Prepare-se para ser fotógrafo, massagista, psicólogo, torcedor, etc..
Você
ficará 5 horas na hípica e quando for a vez dela de saltar você terá que filmar
e fotografar e não verá nada direito naquele 1 minuto. Depois, cabe a você
consolar, aplaudir e incentivar, mesmo não entendendo nada do que aconteceu.
14) Os finais de semana na hípica
Reza a lenda que o Dalai Lama, antes de virar
sacerdote, namorava uma amazona, mas não tinha paciência para ficar sábado e
domingo vendo gente saltando com cavalo e por isso resolveu virar monge
budista.
Prepare-se para ir para a hípica sábado de manhã
e assistir 4 categorias (ainda que o instrutor tenha ligado avisando pra ela ir
logo pra hípica porque já está chegando a vez dela) até chegar na da sua
mulher. Depois esperar uns 20 conjuntos (que não são musicais) até chegar a vez
dela. Agora é torcer para o cavalo não refugar, ela não errar e fazer valer o
dia na hípica.
Material básico para essa tarefa:
- Uma cadeira de praia, porque em 99% das vezes a
arquibancada estará virada pro sol, segundo a Lei de Murphy.
- Um livro, preferencialmente no começo.
- Um iphone, com carregador.
- Dinheiro para comida e bebida. Mais pra bebida.
Arranjar um amigo para conversar é também uma boa
opção, mas há que atentar para o fato de que a maioria das pessoas está ali
para falar de cavalo. O que faz certo sentido, porque seria como falar de
inflação ou literatura no estádio de futebol.
15) E se, com o tempo, eu sentir ciúme do
cavalo?
Se você estiver achando que ela passa mais tempo
com o cavalo do que com você, pense duas vezes antes de falar o famoso "ou
ele ou eu". Há uma expressão caipira que diz: “Cavalo bom é difícil
se achar. Mulher bonita é maisfácil.Se
encontra em qualquer lugar." A lógica serve
"iguarzinho" pras amazonas...
16) Fim
Se você leu tudo e achou que dá pra saltar os
obstáculos de um relacionamento a três (você, ela e o cavalo) sem fazer nenhuma
falta, boa pista pra você!
Desde 26 de julho último, este humilde blog destinado, até então, à "análise de coisas sem a menor importância no mundo", recebeu uma avalanche de acessos. Até o presente momento foram exatamente 4.200 leitores do texto sobre o que fazer em São José dos Campos. Além da grata surpresa, isso me trouxe alívio e alegria.
Alívio de saber que não sou o único louco pela cidade. A paixão por São José me persegue desde sempre. Quantas vezes tive que segurar aquela frase sobre a cidade para não ter que ouvir de novo: lá vem o chato falar bem de São José. Dentro de casa então, falar de São José para minha bauruense é ouvir um "ai, chega de São José né" automático. Faz sentido, pois já são quase quatro anos de doses diárias sobre as proezas da Capital do Vale. Eu não me agüento.
Que alegria ler nos comentários que muita gente viveu momentos tão felizes na cidade e que ela é tão querida por todos. Foi bom saber que o texto propiciou uma volta à infância para muitos. Dei muita risada com os comentários e agradeço cada um que ajudou a divulgar nossa cidade pela rede.
Faltou muito item na lista, mas isso é prova de que temos uma cidade múltipla, que permite diferentes experiências de vida, ainda que marque a cada um de nós com uma experiência em comum.
Para encerrar o ciclo joseense do blog, versos do nosso mais ilustre conterrâneo, Cassiano Ricardo, nome de biblioteca, escola, avenida, etc...:
A flauta que me roubaram
Era em S. José dos Campos. E quando caía a ponte eu passava o Paraíba numa vagarosa balsa como se dançasse valsa. O horizonte estava perto. A manhã não era falsa como a da cidade grande. Tudo era um caminho aberto. Era em S. José dos Campos no tempo em que não havia comunismo nem fascismo pra nos tirarem o sono. Só havia pirilampos imitando o céu nos campos. Tudo parecia certo.
O horizonte estava perto. Havia erros nos votos mas a soma estava certa. Deus escrevia direito por pequenas ruas tortas. A mesa era sempre lauta. Misto de sabiá e humano o vizinho acordava tranqüilo, tocando flauta. Era em S. José dos Campos. O horizonte estava perto. Tudo parecia certo admiravelmente certo.
Muita gente reclama que em São José não há nada para se fazer. Eis o que diz o Desciclopédia sobre a cidade: "O único orgulho dos moradores da cidade é dizer que ela fica a uma hora
de qualquer parte do mundo. A uma hora de São Paulo, a uma hora do
litoral, a uma hora de Campos do Jordão, a uma hora do Rio de Janeiro, a
uma hora de Aparecida, a uma hora de Nova Iorque e Paris. Ou seja, não
tem porra nenhuma pra fazer aqui, pois tem-se tudo em uma hora".
Para responder ao Desciclopédia e comemorar o aniversário da cidade, ai vão dicas do que fazer na capital da aviação:
1- Passear de carro no centro e contar para os visitantes que ali funcionava o único McDonald's a falir no mundo.
2- Comer pipoca com queijo do tio uruguaio no Parque Santos Dumont.
3- Comer bolinho caipira nas festa juninas.
4- Correr no Vicentina Aranha no final da tarde admirando a arquitetura.
5- Andar de bicicleta nas ruas do Urbanova.
6- Tomar caldo de cana na Anchieta.
7- Comer o churrasquinho de gato em frente ao Extra do CTA.
7b-Contar a experiência depois, porque não conheço ninguém que tenha comido, apesar do ótimo cheiro.
8- Beber o famoso chopp do Coronel.
9- Assistir um jogo do São José no Martins Pereira e reclamar do time.
10- Comer o famoso pintado no Vila Velha.
11- Comer o quibe cru do Al Badah.
12- Descer de skate a ladeira do Urbanova apreciando o visual da Mantiqueira.
13- Assitir o pôr do sol na Anchieta e fazer valer o dinheiro do contribuinte gasto na construção do mirante.
14- Comer pastel com guaranazinho do sul de Minas no Mercado Municipal.
15- Tomar caldinho no São Dimas no frio.
16- Ir para Caraguá no final de semana e envolver-se numa briga.
17- Ir no Anexo, ver as pessoas de sempre e disputar uma cerveja.
18- Sair da balada e entupir-se de esfiha no Habib's.
19- Sentir frio na barriga na descida do Habib's. Se for depois da balada, levantar as mãos como numa montanha russa.
20- Ficar com a mesma pessoa que seu amigo(a)/primo(a)/irmão(ã) já ficou.
21- Jogar rugby no Maconhão.
22- Assisitir ao time de basquete no ginásio da Associação.
23- Fazer aula de ginástica olímpica com o Luiz Assunção.
24- Procurar bicho-preguiça na Praça do Sapo.
25- Chamar de caipira quem é de Caçapaca, Jacareí e região.
26- Ir na balada das cidades vizinhas. (Vide n° 20)
27- Conhecer o Henrique famoso.
28- Decorar as musiquinhas da TV Vanguarda.
29- Tomar uns goró no Disque Bebidas.
30- Ir na saída de aula das outras escolas durante a adolescência.
31- Conhecer o CTA e a arquitetura do Niemeyer de seus prédios.
32- Passear pelo Parque da Cidade e admirar a casa de Olivo Gomes, com seus jardins de Burle Marx.
33- Assitir o show do Peleco no mínimo 18 vezes.
34- Perceber que mais um prédio surgiu no Aquárius.
35- Visitar o jardim japonês na subida do Aquarius e não entender o por que de ter sido construído ali.
36- Visitar o Memorial Aeroespacial Brasileiro.
37- Observar os aviões da Embraer cruzando o céu da cidade.
38- Ir a uma festa no Luso e sentir que andou mil quilômetros.
39- Sentir-se sozinho porque todo mundo viajou, afinal, tudo está a uma hora de distância.
40- Andar de Pássaro Marrom.
41- Ver a UNIP na Dutra, achar que chegou em casa e ligar pra alguém buscar na rodoviária.
. 42- Acreditar que as maiores invenções brasileiras, desde o avião até os satélites, foram feitos pelos alunos do ITA.
43- Fazer ballet na Ana Araújo ou na Cristina Cará.
44- Tirar foto com os aviões do Parque Santos Dumont.
45- Comemorar o título do seu time na Av. 9 de julho.
46- Comer uma coxinha da Marinella.
47- Conhecer o Estrela Night Club após uma bebedeira.
48- Passear em São Francisco Xavier, principalmente no Festival Literário.
49- Visitar os parentes em outra cidade, afinal quase ninguém tem pai/mãe joseense.
50- Visitar a Biblioteca Cassiano Ricardo.
51- Escolher algum shopping pra dar um rolê ou fazer compras no calçadão.
52- Passear pela Praça Afonso Pena e saudar o Lunático Dançarino.
53- Ler o Vale Paraibano.
54- Ver notícias da Fabiola Molina ou do André Azevedo no caderno de esporte.
55- Tentar explicar pro visitante o que é o Banhado.
56- Comer o sanduíche do Kadu na 9 de julho depois da balada e entupir de molhos e maioneses.
57- Explicar que quem nasce em São José não é saojoseense.
58- Ficar parado 5 minutos no Anel Viário e já pensar: Nossa, o trânsito está ficando igual ao de São Paulo.
59- (Antes tarde do que nunca), atualizando para colocar o Açaí do sábado à tarde! É o item mais falado nos comentários! Joseense gosta e muito de açaí!
60- Comentar este post aqui com mais dicas!
Agradeço a colaboração dos amigos joseenses, que ajudaram a enriquecer esta lista!
Atualização:
Caros amigos joseenses,
Esse texto acabou rendendo boas surpresas! Ele foi incorporado a um livro sobre São José, que foi enterrado pela Prefeitura numa cápsula do tempo que será aberta só em 2067, quando a cidade completar 300 anos.
A outra surpresa foi que o texto virou música pelas mãos do Adilson Ivan Junior da Costa, da banda Johnny Créu! Muito bom! Valeu Adilson!
Às vezes um presente te faz buscar na memória todo o seu passado com relação a um tema. Foi o que ocorreu quando fui buscar um objeto misterioso que o correio paraguaio disse estar a minha espera no depósito central. Tive a surpresa de receber um livro de poesias de autoria de um grande amigo, Pedro Ernesto Cursino, que escondia um poeta dentro da sua mais conhecida faceta de grande jogador de rugby e parceiro de infância! E o presente chegou justo numa fase de redescoberta com o universo poético.
Relatos e Devaneios
Minha relação com a poesia, devo confessar, nunca tinha sido muito boa. Não sei por quê, mas sempre tive um bloqueio desde criança. Talvez tenha sido meu exagerado apego à realidade, que até hoje me impede de ir ao teatro ou ver novela, por não gostar de interpretação. Vai saber...
A relação, que já não era boa, foi por água abaixo quando me deparei com esse poema do Drummond na minha vida:
Legado
Que lembrança darei ao país que me deu tudo que lembro e sei, tudo quanto senti? Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu? Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti. Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso, uma voz matinal palpitando na bruma e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia no meio do caminho.
O problema não foi o poema em si, mas o fato dele ter aparecido na segunda fase do concurso do Itamaraty. Pela primeira vez na história os candidatos teriam que escrever 3 infinitas páginas sobre um poema. Eu simplesmente entrei em desespero e escrevi o que pude, sobre o tema do legado, fingindo não ter visto o poema. Há relatos de gritos no banheiro de pessoas em igual situação, ainda durante a aplicação da prova:
- C****, eu sou engenheiro, não entendo de poema! Por que justo no meu ano vai cair um raio de um poema!
Deu no que deu. Nota de 59,75 quando eram necessários 60/100. Fui salvo apenas duas semanas depois, graças a uma marcação errada no meu texto sobre Graciliano Ramos. Nada como uma prosa para ajudar.
O trauma poético só começou a passar nos últimos meses, quando comecei a ler a obra de Cassiano Ricardo. Apesar de ter estudado na escola com seu nome e de Cassiano Ricardo dar nome a importantes instituições e ruas da minha cidade, como a charmosa biblioteca municipal de São José dos Campos, nunca o tinha lido até muito recentemente. E comecei a ler mais pelo amor a São José do que pelo amor à poesia, mas acabei gostando:
Biblioteca Cassiano Ricardo
"Era em S. José dos Campos. E quando caía a ponte eu passava o Paraíba numa vagarosa balsa como se dançasse valsa (...)"
(...)Era em S. José dos Campos. O horizonte estava perto. Tudo parecia certo admiravelmente certo."
Trecho de "A Flauta que me roubaram"
Hoje, vindo pro trabalho, lembrei-me dos encontros de família da minha vó Laura, em Itajubá. Incentivados pelo meu pai, os parentes portugueses se revezam em declamar poesias sobre a terra que deixaram, fazendo jus à veia poética que foi herança do meu bisavô, professor de português em Pouso Alegre. Com paixão pela língua portuguesa, entoavam versos de amor à Portugal, com frases de Camões e Fernando Pessoa. Lembro de minha vó, que ouvia tudo atentamente, sempre dizer ao meu pai, com lágrimas nos olhos:
- Ó Walter, esses versos me dão uma saudade de Portugal.
Foi numa dessa ocasiões que decorei pela primeira vez, ainda criança, uma poesia:
"Ó mar salgado, quanto do teu sal. São lágrimas de Portugal".
Acho que, além de aprender um verso, nessa ocasião pude entender um pouco desse meu gosto pela melancolia, que pelo jeito herdei do sangue português:
Aos meus olhos de menino, era mais divertido ver a desinibição daquelas
tias-avó em frente ao público do que propriamente a poesia declamada. Hoje, queria estar novamente nessas tardes de poesia em Itajubá, para que meu filho pudesse ver como era linda a língua portuguesa declamada pelas poetisas da família.
Pra finalizar, um poema de Floberla Espanca, narrado pela atriz portuguesa Eunice Muñoz, que dá um gostinho de ouvir poesia portuguesa lida com sotaque português. No fim, a poesia musicada por Fagner:
Sempre achei as pessoas que
não gostavam de futebol muito chatas, até que me tornei uma delas. Futebol,
assim como algumas crenças, não se presta muito à racionalização. Há que se ter
fé, acompanhar com o coração, porque do contrário você para de seguir. E eu
resolvi pensar. Depois que meu filho nasceu parei de me importar com o futebol
como fazia antigamente. Lembro de uma vez estar no hospital com ele e assistir
na tv da sala de espera o São Paulo ser campeão da Libertadores, um dos meus
maiores pesadelos. Naquele momento vi que se a bola do adversário entrasse ou
não no gol dos malas dos são-paulinos era muito menos importante do que eu
estava vivendo ali. Agradeço sempre por esse dia, quando aprendi que momentos com pessoas queridas valem muito mais que uma partida de
futebol.
A recente briga entre
torcedores da Gaviões e da Mancha me fez acreditar ainda mais que fiz uma boa
escolha. Não consigo entender como uma pessoa de origem humilde, que ganha pra
sobreviver, chega ao ponto de matar e morrer por um resultado que só pode ser
mudado por jogadores que ganham centenas de milhares de reais e que, na
verdade, pouco se importam com o resultado, caso contrário sairiam abatidos de
campo, o que ocorre em raras exceções.
Este texto parece aquele papo
de babaca "qual é a graça de 22 homens correndo atrás de uma bola".
Em certa medida é, mas não tão babaca assim. Temos que pensar o que queremos do
futebol. Diversão ou fanatismo? Eu me libertei e hoje tenho uma vida muito mais
tranqüila sem me importar se o Palmeiras ganhou ou perdeu.
Outra notícia recente foi a
discussão sobre a proibição de cervejas nos estádios durante a Copa, pelo risco
da violência. Não poder tomar cerveja no estádio é o atestado de óbito da
diversão no futebol. Agora vamos todos pra brigar e xingar, não para torcer e
se divertir. Proibir a cerveja no estádio é como proibir a pipoca no cinema. Os
estádios vazios deixam muito claro que o futebol deixou de ser uma opção de
lazer viável para as famílias, infelizmente.
Agora, não gostar de futebol é
um desafio e tanto. O papo sempre descamba pra futebol e se você não emitir uma
opinião você vira chato. O problema é que eu ando muito perdido no assunto, não
sei nem que são os jogadores mais. Gosto, no entanto, dos papos exóticos, como
aqueles do “Loucos por Futebol”. Saber nomes de times, estádios, curiosidades
históricas, isso tudo ainda me diverte, mas se o Zezinho deveria jogar de
meia-esquerda ou de volante, para isso eu estou pouco me lixando. Esses papos de
mesa redonda me dão nos nervos. Há uma paródia do Marcelo Adnet que resume bem
as discussões sobre futebol:
Outro fenômeno atual é o "Aqui é Curtintia" no Facebook. Basta ter um jogo mais importante que no mural do facebook aparece uma infinidade de gente se vangloriando pela vitória do time pelo qual torce. O pior é que essas pessoas não apenas comemoram, mas querem diminuir os que torcem para os outros times o tempo todo. É aquela teoria: olhem só, meu time é melhor, sou melhor que você, meninas gostem de mim porque o time pelo qual torço é melhor..... As pessoas se sentem superiores sem terem feito, ao menos, um golzinho com os próprios pés. Esses dias veio um cara conversar comigo com aquele papo de tiozão de churrasco e passou o tempo todo zuando o Palmeiras, me provocando porque o Palmeiras perdeu pra sei lá quem. Já estava de saco na lua até que falei pra ele: Amigo, eu não joguei, não pude fazer nada pro Palmeiras ganhar, estou aqui no Paraguai, e o fato do seu time ser melhor não faz a menor diferença na minha vida.
Desagradei, mas não ouvirei mais "e o seu Palmeieras, ein?".
Por fim, sábias palavras do grande Marcos:
* Nota: Todo esse meu papo não vale quando o assunto é o São José.