"Eu acredito demais na sorte e tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho." Thomas Jefferson
Hoje vou quebrar uma das regras deste blog que era não falar do trabalho, mas depois de responder pela 10ª vez a pergunta do título do post eu precisava desabafar.
Mesmo passado algum tempo da aprovação no concurso do Rio Branco, de vez em quando aparece algum amigo de amigo que quer dicas sobre como passar na prova. No meio de perguntas gerais surgem umas mais engraçadas. Para uma amiga perguntaram se precisava tocar piano e para mim já perguntaram umas três vezes se tem mesmo que morar na África. Eu juro que respondo a todos com a maior boa vontade, até que vem a famosa pergunta, presente em 9 de cada 10 emails de candidatos: "É preciso estudar muito?"
A vontade inicial é responder que não precisa, pois, assim como a Telesena, são aprovados os que fazem mais e menos pontos na prova. Mas, como eu sou vice-campeão do Prêmio Nobel da paciência- perdendo apenas para o Dalai Lama (injustamente, porque ele nunca foi casado)- acabo respondendo que sim, precisa.
O que me dá um pouco de incômodo é pensar que por trás de "É preciso estudar muito?" ou "Precisa ler tudo mesmo?" existe um claro desejo de obter uma aprovação sem esforço, com jeitinho.
Lembro quando tive minha primeira reprovação no concurso e fui chorar as mágoas com minha professora de inglês. A conversa que tive foi muito importante para rever meu conceito sobre aprovação e reprovação. Ela me fez entender que não deveria pensar que fui reprovado, mas, sim, que não havia ainda adquirido o conhecimento necessário para exercer a carreira diplomática. Parece uma "tucanização" da reprovação, mas há uma filosofia interessante por trás disso. A prova nada mais é do que um reflexo do seu conhecimento sobre os temas que o Ministério acha necessário que um servidor tenha minimamente. Se você ainda não os tem e não quer estudar muito para adquiri-los, porque querer entrar na carreira? Perguntar se precisa gostar de estudar pra ser diplomata é mais ou menos perguntar se precisa gostar de correr para ser maratonista. Não que todos diplomatas sejam apaixonados por estudar e façam isso nas horas vagas, mas são pessoas que tiveram a clara consciência de que em uma fase de suas vidas foi preciso concentrar-se em estudar para adquirir o nível de conhecimento exigido pelo trabalho que escolheram.
Nós geralmente temos uma visão muito negativa de provas, pois as encaramos como carrascos prontos para nos derrotar de forma injusta. Dificilmente as vemos como uma forma de medir o conhecimento que adquirimos durante os meses de estudo. Acredito que elas nada mais são do que isso, simples termômetros. Essa desmistificação da prova é fundamental, pois nos permite focar no que realmente importa, que é a nossa preparação e nosso estudo. Quanto mais você estudar, mais confiante fica e menos chance haverá de cair algo que você não sabe. Aquela máxima "não existe questão difícil, você que estudou pouco" é cruel, mas não deixa de ter um fundo de verdade.
Uma teoria que apliquei e funcionou muito bem pra me ajudar a ter o equilíbrio emocional necessário é pensar em cada matéria como um balde a ser preenchido com areia. O concurso então tinha 9 matérias, que seriam 9 baldes que eu deveria preencher com pelos menos 60% de areia (conhecimento) cada, para então ingressar "naturalmente" na carreira. Alguns baldes, como o de Inglês, exigiam mais dedicação e tempo para serem preenchidos; outros, como História e Geografia, eu já vinha da faculdade com algum conhecimento e por isso precisei de menos esforço pra chegar aos 60 - 70%. Pensar dessa maneira me permitia focar na preparação para exercer a carreira e evitava que eu concentrasse meus pensamentos negativamente na dificuldade da prova.
Para finalizar o post-desabafo, acredito que no Brasil ainda temos uma imagem muito negativa dos estudos. Temos medo de ter de estudar para alcançar algum objetivo. Desde a escola lembro que aqueles que estudam, prestam atenção nas aulas e vão bem nas provas são alvos de brincadeira dos amigos. Quem nunca zuou um cdf aqui? Na Coréia do Sul, ao contrário, os campeões das olimpíadas de matemática são ídolos nacionais. O reflexo disso na sociedade é claro e não preciso me alongar.
No começo, quando me perguntavam da dificuldade do concurso, eu tentava não parecer pedante ao dizer que é muito difícil. Hoje me sinto mais confortável e digo que sim, que exige muita dedicação e preparação, com a consciência de que isso não me faz ser melhor nem pior do que ninguém. Sou apenas alguém que dedicou alguns anos da vida a apenas estudar e por isso alcançou o que queria, como ocorre com um atleta que compete melhor porque treinou o um cantor que canta melhor porque praticou, e assim por diante.
No pain no gain!
Para saber mais sobre o concurso e a carreira ai vão alguns links interessantes:
Valeu!
ResponderExcluirA exceção valeu a pena. Bom post, tanto por esclarecer alguns pontos, quanto pela breve reflexão sobre o papel dos estudos - que realmente é algo conflitante numa sociedade que quer aprimorar-se mas não (tende) a não ver por onde. E pelos links também!
ResponderExcluirMas isso é porque no Brasil o bom é você "ser inteligente", tipo, você nasceu tão inteligente que não precisa estudar. Estudar é coisa pra quem não é tão inteligente assim e precisa ralar pra conseguir passar numa prova. Sem contar em toda uma cultura que venera resultados sem esforços ou com o mínimo esforço - você é "muito esperto" e "muito inteligente" se conseguiu um trabalho que pague bem com o mínimo esforço possível. O "grau de esperteza e inteligência" diminui cada vez que você tem que ralar pra conseguir uma boa colocação profissional - tem que estudar muito e trabalhar muito? "Se deu mal". O negócio é ser jogador de futebol, modelo, porque você não precisa estudar e ganha muito dinheiro...ou então aparecer no Big Brother né.
ResponderExcluirQuando meus filhos nasceram e comecei a ler sobre educação infantil (aqui nos EUA) li vários artigos bem interessantes sobre você elogiar as crianças desde pequenas pelo trabalho desenvolvido, e não por uma característica inata. Por exemplo: evitar falar pro filho o tempo todo "você é tão inteligente" ou "você é tão esperto" e sim dizer "parabéns por ter se dedicado" ou "bom trabalho". O artigo comentava que as crianças que ouviam muito "você é tão inteligente" resistiam muito experimentar e aprender coisas novas por medo de fracassar, pois isso seria uma prova que elas não são tão inteligentes quanto achavam que eram (ou com medo dos pais se decepcionarem). Ou seja: se você não é bom em alguma coisa "de berço", não há espaço ou motivação para aprender. Vejo muito isso no Brasil, tudo é "dom", "talento", e não porque alguém se dedicou e ralou pra conseguir alguma coisa.
Paulo, excelente post!
ResponderExcluirObrigada por indicar o diplomatrizzando!
Acabo de conhecer seu blog e qual não foi minha surpresa ao ler na sua descrição que vc é "apaixonado por São José dos Campos". Estou tão acostumado a ouvir as pessoas falarem mal da cidade que causa estranhamento encontrar um defensor tão entusiasta dessa cidade por vezes pouco compreendida, mas que é uma cidade incrível de se viver.
ResponderExcluirEstou estudando pro CACD e gostaria de aproveitar a deixa e perguntar se vc conhece algum professor de francês e/ou espanhol, que conheça a prova do Rio Branco, que seja aqui de São José?
Abraço,
Henrique, infelizmente não conheço em São José, mas acredito que essas são as matérias em que você menos precisa de alguém específico pro concurso. Basta pedir pra focar na leitura, interpretação e escrita.
ExcluirGostei do seu BLOG PC!
ResponderExcluirGostei do que li...realmente, sempre vai existir pessoas que vão sempre te fazer as mesmas perguntas, e tem hora que dá vontade de ser grosso.
Dar explicações e esclarecimentos sobre as mesmas coisas é um saco.
Achei interessante porem me senti tão...pequeno em questão de ver meu termômetro no ENEN. Realmente, se eu não tenho nota boa no ENEN é porque não adquiri conhecimentos o suficiente...não fui reprovado, só tenho que estudar mais para adquirir a média...
Bons conselhos!
Bem bacana esse post. Realmente, é triste as pesssoas quererem se dar bem sem esforço. Eu não sei de nada na vida que venha se esforço. E concurso público é como uma fila: quanto mais você estuda, mais um passinho pra frente você dá. Uma hora você chega no início e é aprovado. Aproveitando a oportunidade do tema, eu queria saber sobre um aspecto bem específico da profissão e acho que só quem está dentro saberia me dizer. Durante toda a carreira, um diplomata ou um of chan pode ficar passando por postos A,B e C apenas, ou ele necessariamente ele tem que passar por um D?
ResponderExcluirObrigado pelas palavras! Pelas regras atuais não há obrigatoriedade de servir em posto D não, apesar de serem oferecidas certas vantagens para quem se candidatar.
ExcluirParabéns pelo Blog.
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