segunda-feira, 13 de maio de 2013

Que tipo de herói queremos pros nossos filhos?


 Ontem, depois da Meia Maratona aqui em Assunção, conversei com um senhor que veio de Belo Horizonte para a corrida. Todo sorridente, ele estava esperando para ver se ganharia troféu na sua categoria, de maiores de 70 anos. Ele fez os 21km em 1h50 carregando um papel em homenagem a mãe, falecida há 16 anos. Depois de receber o troféu pelo segundo lugar, despediu-se dizendo que iria pro hotel se arrumar porque pegaria o ônibus ainda aquele dia para BH.
À tarde, fiquei vendo futebol enquanto lia no sofá. Depois da partida, um jogador, que não correu porra nenhuma o jogo todo, veio falar que o time perdeu porque foi prejudicado pela arbitragem. 
Provavelmente nossos filhos nunca saberão a história de milhares de pessoas como este senhor de BH, mas diariamente assistem na TV picaretas que ganham bons milhares de reais para colocar a culpa da derrota em algum fator externo.
Não quero cair no lugar comum de reclamar do salário dos jogadores de futebol. Se alguém ganha R$1 milhão por mês é porque provavelmente gera muito mais que isso ao seu contratante. O problema está em nós, que financiamos uma indústria que cria ídolos que não se esforçam como deveriam, passam o jogo inteiro querendo enganar o juiz e nunca assumem a culpa da derrota e a grandeza do adversário.
(Nem vou comentar a fábrica de "heróis" e "guerreiros" televisivos como BBBs, filhas da Gretchen e tantos outros porque já é idiotice demais para levar em consideração. Vamos falar de esporte.) 
Vale ressaltar que o problema não está no futebol em si, o esporte mais amado do mundo, incontestavelmente. O problema está no foco que estamos colocando neste esporte. Precisamos de mais valores dentro de campo e menos zoação na segunda-feira da firma. O fato de o comentarista de arbitragem ser um dos principais atores da transmissão mostra que algo está errado atualmente.
Comecei a relativizar os ídolos do futebol logo depois da minha primeira partida de rugby. Chega a ser patético você todo quebrado, machucado e esfolado em nome do time amador da faculdade ver um dos milionários do futebol sair de maca do gramado porque fingiu que machucou a canela.  Eu perdi o estômago pra isso. 

Durante minha curta vida rugbística, vi muitos amigos dando uma raça absurda pra jogar, às vezes sem o preparo  necessário, mas com o máximo de amor por uma equipe que você possa imaginar. E posso afirmar que isso ocorre em todos os níveis, desde as equipes universitárias até a seleção brasileira. Se cada um soubesse o que os jogadores da seleção de rugby fizeram para ela estar nessa margem de crescimento atual, teriam vergonha de ver gente pedindo autógrafo pro Neymar. 
Um dos meus traumas de infância foi não ter recebido nenhum aceno do Zetti quando ele foi jogar pelo Palmeiras em São José. Lembro que era pequeno e chorei pra caramba. Pois bem, estes dias estava lendo sobre a Ultramaratona de Badwater, que acontece no Vale da Morte, na Califórnia, e percorre 217 km numa temperatura média de 45°C! Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o recordista da prova era um brasileiro, Valmir Nunes! Descobri o email dele e resolvi escrever parabenizando-o. Eis a resposta dele:

Boa tarde, Paulo
Obrigado por suas palavras. A corrida é apaixonante. Continue treinando. 
Sao pessoas como voce que me fazem continuar em busca de meus sonhos.
Grande abs
Valmir

Esse tipo de ídolo que quero pro meu filho!
Quantas vezes nas corridas me deparei com gente que tinha tudo pra reclamar da vida, mas achou melhor seguir em frente. Toda vez me emociono ao cruzar com cadeirantes, com aquela mãe de São José que leva a filha com paralisia em todas as corridas, com pessoas mais velhas que resolveram não se entregar ao sofá. Lembro que o motivo que me levou a correr é tão menor do que o dessa gente e isso me dá ainda mais gás para sempre dar o meu melhor, porque esses caras sim são heróis pra mim.
Quando levei o Ale pra competir a primeira vez, ele estava meio preocupado e me perguntou:
-Papai, mas se eu não ganhar?
Daí respondi:
-Ale, a única maneira de você me deixar triste hoje é se você não se esforçar. A vitória ou a derrota é indiferente se você der seu máximo.
Não importa o esporte que ele resolva praticar, quero que ele siga exemplos como este, de não reclamar e seguir em frente:


Para terminar este desbafo contra heróis fajutos, conto que a Meia Maratona de Assunção teve vitória brasileira. Esta é a imagem da chegada, quando Alexandre Elias esperou seu colega de equipe para cruzarem juntos a faixa de chegada! Treta demais!
Provavelmente você nunca teria ouvido falar dele, mas certamente viu alguma imagem de impedimento mal marcado esta semana.

 
  Obs: a corrida tinha prêmio em dinheiro!