quarta-feira, 23 de abril de 2014

Estreiando no Triathlon: X Terra Paraty

Depois de muitos meses de natação e alguns de ciclismo, chegou a vez de juntar tudo e participar da minha primeira prova de triathlon. Tinha me inscrito no XTerra Paraty por apresentar distâncias não tão longas, o que pensei que poderia ser um bom começo. Estavam previstos 1,5K de natação, 29K de ciclismo e 7,5K de corrida. O problema é que o ciclismo seria mountain bike e eu não estava nada preparado pra o que estava por vir.
O primeiro desafio foi preparar a mala antes de viajar. Meu medo era esquecer algum item essencial para alguma das três etapas. Quando era só corrida era tão mais fácil arrumar a mala...
E apesar de levar tudo certinho, na prova você fica se sentindo muito iniciante ao ver os participantes com todos os itens de triathlon que você ainda não tem. Como o investimento é muito alto, vou comprando aos poucos e ajustando o que dá. A bike foi da minha cunhada Ana, a quem muito agradeço!
A natação, que sempre foi minha maior preocupação, foi tranquila. Sabia que eu não ia ser rápido, então minha alegria foi não terminar muito atrás e terminar bem fisicamente. O mar estava uma maravilha para nadar, sem ondas e raso até demais.
 A transição pra bike também foi boa. Consegui fazer rápido, só que vi que muita gente já havia saído de bike e tentei me tranquilizar.
Na parte do ciclismo foi que o bicho pegou. Eu já tinha feito uma prova de Mountain Bike de 21Km no Paraguai e sabia que seria duro, mas não esperava um trajeto tão técnico e tão cheio de subidas.
 Os primeiros quilômetros foram bem e consegui colocar um ritmo legal, fazendo algumas ultrapassagens. Depois, foi morro atrás de morro. Pelos meus cálculos, passei quase 40% do tempo empurrando a bicicleta morro acima. Um saco! Fiquei de muito mau humor. O pessoal que estava ao meu lado também começou a reclamar muito. Imagino que pros primeiros colocados deve ter sido legal um percurso difícil deste, mas pra galera que ficou lá trás como eu ficou uma ponta de decepção por ter que levar a bike na mão por tantas partes do trajeto. Tombos eu levei quase 10, principalmente por não conseguir tirar a sapatilha a tempo do pedal. Derrubei um cara também sem querer e fiquei muito preocupado de tê-lo machucado ou quebrado a bike, mas ficou tudo bem. Minha corrente enroscou na catraca e, depois do último tombo, a marcha parou de mudar! Tudo isso era menos pior que furar o pneu, eu pensava, e continuei a pedalar. O grande problema pra mim foi que, além de perder muito tempo de prova subindo a pé empurrando a bicicleta, acabei gastando muito a perna e tirando forças pra minha melhor parte, que seria a corrida.
O trajeto não acabava nunca e comecei a me preocupar em estourar o tempo limite pra entrar na área de transição, uma vez que meu relógio também quebrou.
Demorei tanto na parte do ciclismo que, quando cheguei na transição, meu irmão perguntou se eu tinha errado o caminho rs.
 A definição da mountain bike pra mim foi uma máquina de moer carne. Ela acabou com minhas energias, meu humor e minha moral pro resto da prova.
Quando saí pra corrida, comecei a correr com raiva e tentei imprimir o ritmo em que estou acostumado a correr, mas só consegui até o segundo quilômetro. Depois, corri do jeito que deu, torcendo pra acabar logo. Ao final, foram 3h40min de prova. Não estava preparado psicologicamente para tudo isso. Por sorte levei doce de banana o suficiente pra comer durante a prova.
A torcida dos amigos e parentes na transição ajudou bastante. Saber que eles estavam lá me esperando deu ânimo para terminar a prova.
Nos quilômetros finais da corrida, lembrei muito do livro que estou lendo, sobre o corredor olímpico norte-americano Louis Zamperini. Após 43 dias sobrevivendo num bote no mar, depois de seu avião ser abatido na Segunda Guerra, ele passou mais de dois anos sofrendo em campos de prisioneiros mantidos pelos japoneses. Sua família já recebera a notícia de que ele estava morto. Ao final da guerra, quando souberam que ele estava vivo, seu pai falou: "Eu sabia que aqueles japoneses não iam quebrá-lo. Meu filho é um cara durão".
Essa frase ficou na minha cabeça a corrida toda. Eu sempre leio livros sobre pessoas em situações extremas, porque ajudam a colocar em perspectiva as pequenas dificuldades que enfrentamos em algumas provas.
Eu queria ser um cara durão, queria  terminar aquela prova!




Fui o 88 colocado em 120 homens, mas agora posso dizer que sou um triatleta! Valeu a pena o perrengue.