quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fuja da televisão e faça você mesmo

           Estava lendo o livro "The Sports Gene", de David Epstein, para saber mais sobre genética esportiva (óh, jura Pc?, pensei que fosse culinária ou direito marítimo) e me deparei com um conceito que, se me lembro bem, o autor chamou mais ou menos de "piramidização dos eventos esportivos". Epstein argumenta que nos últimos anos, com o aumento dos patrocínios e da exposição na mídia dos grandes eventos esportivos, houve uma concentração enorme de prêmios em dinheiro e de remunerações no topo da pirâmide, para atletas como Tiger Woods, Usain Bolt e Neymar, e sobrou pouco para você, para mim e para o lateral esquerdo do futebol de várzea da sua cidade, que estamos na base da pirâmide esportiva. 
"Ah, então você quer ganhar dinheiro nessas suas corridinhas de final de semana, Paulo Cezar?"
           O problema maior disso não está apenas em ganhar ou não prêmios monetários em corridas, até porque com minhas colocações não daria pra cobrir nem o valor da inscrição. O drama da situação atual reside no fato de que, com o dinheiro investido no esporte concentrado em grandes atletas (que conseguem mais exposição mundial pela TV e geram obviamente mais renda e propaganda) estão diminuindo os incentivos a atletas amadores. E, segundo Epstein, não é só pela grana, mas pelo prestígio. Se eu posso ficar em casa e ver ao vivo na TV o Messi driblar meio time adversário de uma forma fantástica, isso não é melhor do que eu tentar jogar meu futebolzinho sem graça? O autor, no caso, fala sobre uma legião de Quaterbacks frustados que deixam de jogar em suas cidades porque o espetáculo provido pela Tv tem apelo muito maior. Nessa parte creio que o conceito de BIRGing (Basking in reflected glory), que tratei em outro texto, se encaixa muito bem. BIRGing é a associação que um indivíduo faz com o sucesso de outro de tal maneira que aquele sucesso seja sentido como seu também. Eu, com a camisa do Barcelona em casa, me sinto fodão porque o Messi fez quatro gols.
            Não era assim com as gerações passadas. Cresci ouvindo história do meu pai e dos meu tios sobre os gloriosos dias do futebol amador de Itajubá, em que o estádio ficava cheio pra ver os times da casa jogarem. Claro que eles gostavam de assistir os jogos do Botafogo e os lances do Pelé, mas como a facilidade não era a mesma que hoje, o jeito era fazerem eles mesmo o campeonato local para se divertir. E isso se reproduzia em todos os esportes. Com a TV mostrando ao vivo o Usain Bolt, ninguém se interessa em ir presenciar o cara mais rápido da sua cidade contra o cara mais rápido da cidade vizinha.  
"Ah, então você está falando que a tecnologia que nos permite ver ao vivo o Bolt é ruim e que seria melhor assistir a Chico Bento x  Zé Lelé na minha cidade"?
          Não, ela é ruim à medida que te desincentiva a dar o seu melhor e terceiriza sua glória e realização pessoal.
              E que fique claro que não é só a TV, pois a internet nos permite viajar sem sair do lugar, ser agricultor sem plantar sementes, ser soldado sem saber da tiro, etc...
           Hoje li o texto "6 verdades chocantes que irão fazer de você uma pessoa melhor", no link http://www.libertarianismo.org/index.php/artigos/6-verdades-chocantes-que-irao-fazer-de-voce-uma-pessoa-melhor/
              O texto começa com o autor pedindo pra que listemos 5 coisas impressionantes sobre a gente mesmo e segue na linha de "depende só de você ser uma pessoa mais interessante, mas isso custa tempo então saia da inércia comece logo".
              Numa parte da sua argumentação, o autor afirma que muitos vivem se perguntando “Como eu consigo que garotas bonitas gostem de mim?” ao invés de “Como eu posso me tornar o tipo de pessoa que garotas bonitas gostam?”. Essa parte do texto tem tudo a ver com um filme que vi esse final de semana e me fez pensar muito na vida, chamado "A Vida Secreta de Walter Mitty". Walter é um funcionário apagado e sem graça de uma revista e vive tendo ilusões com aventuras que façam com que sua amada lhe dê atenção. Ao longo do filme, ele acaba tendo que participar realmente de aventuras e vai parar num vulcão da Islândia, num helicoptero na Groelandia e até mesmo no Afeganistão. Ao atualizar seu perfil numa rede de namoro na internet com esses fatos novos, Mitty se torna objeto de desejo das mulheres e ganha a admiração de sua amada. É a consagração da história "faça você mesmo coisas espetaculares que se tornará uma pessoa melhor e conseguirá o que quer".
              Meus últimos três meses, com o joelho machucado, foram de muitas horas de televisão. Se tivesse que listar coisas impressionantes sobre mim nesse período poderia dizer: 1- Vi um cara ganhar um Tour de France, na ESPN 2 - Vi uns caras subindo o Everest, no Discovery 3- Vi um capitão ser sequestrado por piratas, no Cinema, etc..   
               Com a forma física recuperada, prometi a mim mesmo que a TV será só de vez em quando e que iria parar de reclamar da vida. Comecei a treinar mais, a aceitar mais convites pra sair de casa e a parar de ter preguiça de sair do sofá e procurar algo legal pra fazer.
             Não sei como dizer isso sem ser constrangedor, mas acredito que as coisas nessa vida são como filme erótico: por mais que seja muito legal ver na TV e que a atriz seja linda, é muito melhor fazer você mesmo.
              Não é um lema que você possa escrever na parede da sua casa, mas com ele em mente você poderá dizer, quando chegarem seus últimos dias, "fiz mais do que vi gente fazendo".