sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Muita cachaça -Paraisópolis e Taubaté

       Duas fotos de lojas que tive o prazer de conhecer e que mais parecem uma biblioteca de cachaças.
       A primeira fica em um posto de gasolina de Paraisópolis, sul de Minas, e a segunda em Taubaté-SP, no mercado municipal. Dureza foi escolher qual levar.




quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Manifesto contra a frescurização da cachaça

        Se tem algo que quem não é do mundo do vinho detesta é a frescura com que os supostos entendidos  escolhem suas bebidas. Quer tirar minha paciência é alguém atrasar todo o pedido de comida na mesa do restaurante porque está sabatinando o garçom sobre a melhor safra dos vinhos disponíveis na carta de vinho. E o que falar da patética cena da degustação e aprovação perante o garçom? Estes dias vi um cara na mesa ao lado devolver o vinho porque achou sinais de desgaste na rolha, o que supostamente interferiu no sabor do vinho. Se eu fosse o garçom desgastaria a cara dele, mas deixa pra lá.
           Outra chatice são esses sabores que só os enófilos sentem. Notas de baunilha, bouquet de carvalho, aveludado, amêndoas, banana, etc.. Para mim isso tudo tem aroma de abobrinha. O máximo que sinto são notas de cortiça quando deixo a rolha cair dentro da garrafa. Como caipira, tenho sempre duas opiniões sobre os vinhos: é bom ou é ruim. Queria realmente poder sentir tudo isso em um vinho, deve ser mágico! Os testes cegos são os melhores antídotos contra os enochatos. Eis um aqui um vídeo muito bom:

         Tenho para mim que o vinho ganhou força no Brasil como uma nova fronteira de diferenciação da classe média, que sempre buscou incorporar sinais de sofisticação a todo momento. Decantadores, saca-rolhas mágicos, mini adegas eletrônicas e diferentes tamanhos de copo são parafernálias obrigatórias na casa do casal moderno brasileiro. As pessoas querem se sentir especiais não apenas consumindo um bom vinho (pessoas chatas sempre usam o "bom" na frente de vinho), mas afirmando sentir sensações no paladar que os enólogos garantem que estão naquele determinado vinho. Isso me lembra a fábula "A Nova Roupa do Rei", de Hans Christian Andersen, em que todos diziam enxergar a roupa invisível do rei, que só os inteligentes poderiam ver, para não serem chamadas de burra. Será que alguém um dia gritará no mundo dos vinhos: o Rei está nu?
          Uma das primeiras coisas que minha turma do Rio Branco fez foi se matricular num curso de vinhos. Tudo bem que o vinho sempre estará presente na nossa carreira, mas e a bebida nacional, será que conhecem suficientemente bem?
     O grande mal que a enochatice tem feito é criar um estereótipo que prejudica os verdadeiros apreciadores. Apesar de não entender nada, gosto de vinho, adoro ganhar de presente e tenho muitos amigos que realmente conhecem vinhos e que sabem apreciar as diferentes nuâncias de aroma e sabor, mas que bebem tranquilamente em sua casa ou no restaurante, sem anunciar aos quatro cantos que escolheu aquele vinho porque ele é de tal região ou safra. O mundo do vinho é espetacular e acredito que as pessoas entendidas também devem estar um pouco enfadadas dos enochatos.
       Pois bem, depois de discorrer sobre enochatice e expor meu trauma com vinhos (sempre que devolvo a carta de vinhos recebo um olhar de "humpf, moleque" do garçom ao pedir coca-cola), vamos falar do que interessa: cachaça.
        Geralmente, quando se conversa de cachaça os principais adjetivos utilizados resumem-se a: boa/ruim, amarela/branca e forte/fraca. Às vezes escapa um "macia" aqui, um " braba" acolá, mas nada muito além disso, pois caipira não é de ficar descrevendo muito as coisas não. Acontece que isso tem mudado, infelizmente (pelo menos para mim). Estamos sendo contaminados pela enochatice. Fui ler o Ranking Playboy da Cachaça de 2011, que é hoje a principal lista sobre a bebida no país, e eis as descrições que encontrei para algumas delas:
- "a viscosidade e as notas de baunilha e caramelo agradam"
- "licorosa, com um amargor confortável"
- "tostada, complexa, tem algo de amêndoa"
- "o resultado é algo herbáceo, com predominância de anis e eucalipto"
- "sabor de banana verde, o aroma de Sândalo e o paladar pontual"
- "baunilha, couro, amêndoa caramelada"
- "tem sândalo no aroma e sabor picante"
- "textura licorosa, aroma forte e doce, sabores de caramelo, rapadura e especiarias".
- "doce, leve e com notas de banana verde"
- "doce, amanteigada, licorosa"

        Acho que se eu fosse produtor de cachaça e fizesse meu produto com todo esmero iria ficar muito chateado se alguém falasse que ele tem gosto de banana verde ou rapadura.Vamos imaginar que você cuidou da sua lavoura de cana, do processo de fermentação, da destilação, comprou os melhores barris, contratou técnicos, fez uma garrafa com bela apresentação e conseguiu figurar no ranking das melhores cachaças do Brasil, daí vem um "conhecedor" e diz que ela lembra...Couro!?!?!? Couro????
       Não sei por que as pessoas insistem em achar que beber é brincar de procurar sabor exótico. A própria Playboy não deixou barato e na apresentação da degustadora Bel Coelho, dona das frases, disse que ela tem um paladar e olfato sobre-humanos. Pois é...
          O outro degustador que colaborou com a revista foi Leandro Batista. Esse sim vale a pena conhecer. Seus vídeos no site Mapa da Cachaça são uma aula obrigatória para quem quer conhecer mais sobre o assunto. Para mim, a melhor descrição de cachaça feita nesta edição do ranking foi do Marcelo Tas, sobre a Cachaça MatoDentro: tem "sabor de infância". Simples, mas diz muito.
     


Comprando vinho x comprando cachaça

         Numa mesma semana passei por duas experiências diferentes ao comprar um vinho e uma cachaça.
         Como era aniversário de um grande amigo, resolvemos presenteá-lo com um bom vinho (essa expressão bom vinho é insuportável e inevitável), que hoje em dia ocupa o lugar outrora do CD no rol dos presentes sem muita criatividade. Fomos a uma adega no shopping Iguatemy de Brasília e eu já estava escolhendo algum vinho pelo meu método do rótulo bonitinho quando minha mulher resolveu pedir dicas ao vendedor, que falava mais que a boca. Daí ele começou com a tradicional chatice dos enólogos, nos mostrando um vinho nada a ver:
          - Esse vinho é mais incorpado, ideal para pessoas com mais personalidade. Tem sido uma nova tendência de vendas aqui na adega. Desde pessoas sofisticadas aos mais tradicionais desgustadores estão escolhendo este vinho porque ele possui uma ótima harmonização.
          - E de onde é? (pergunta feita porque tenho curiosidade de saber de onde são todos os produtos que compro)
          - É de uma região do sul da França, em que a terra tem qualidades especiais, por ser plantado em solo antigo de videiras tradicionais. O seu amigo prefere que tipo de uva? Porque se for uva Chardonnay, aconselho a levar este aqui, que tem notas de carvalho, com suave gosto de amendôas e banana. O final é potente e aveludado, demonstrando a personalidade do vinho. Se você optar pelo Merlot, te ofereço opções mais contemporâneas de produção, cujo o buquê é incrível.
          O bla bla bla eno-chato seguiu por uns  minutos..
          - Não, eu quero aquele ali. Arlequin.
          - Ótima escolha, você conhece este vinho?
          - Na verdade não, mas o rótulo e o nome são iguais aos de uma camisa de rugby que um dia ele me deu, dos Harlequins de Londres.
          - Ah (cara de decepção). Mas então vou embrulhar nessa embalagem especial para o senhor, que acompanha nossa carta de vinhos mais atual.
          Apesar de ter sido escolhido assim, o vinho revelou-se um ótimo presente. O fato de ter feito referência à camisa de rugby tirou a impessoalidade de dar-se um vinho. Aliás, ainda recebemos elogios pelo vinho, que desconfiei ser bom pelo preço...
          No fim de semana fui ao Mercado Municipal de Belo Horizonte comprar cachaça. Depois de comprar a Lua Cheia, que estava procurando, resolvi perguntar de outra que estava ali. O diálogo inteiro foi o seguinte:
          - E aquela ali?
          - É boa.
          - De onde é?
          -Minas. Toma um golinho.
          -Boa mesmo.
          -Vou embrulhar no jornal pra você.
    
         Agora em Assunção, sempre que possível, tenho presentado as pessoas com cachaça e a estratégia parace estar dando certo!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As árvores de Assunção

               Assim como minha mudança de São José até Brasília foi marcada pelos ipês amarelos no caminho, da chegada em Assunção certamente lembrarei pelo ipês rosas. Quando se fala em Assunção, poucos sabem o quanto esta cidade é arborizada. Assunção é denominada aqui como a capital mundial dos lapachos, como são chamados os ipês no país. E não é sem razão, pois a cidade é pontilhada por essas árvores. Chegar aqui com a cidade florida de uma árvore tão típica do Brasil certamente aliviou um pouco o sentimento do exílio.
               Acontece que não é só de ipês que a cidade está cheia. São muitas árvores, de diferentes espécies, que têm atraído minha atenção desde que cheguei. A visão aérea da cidade parece um tapate verde, sem exageros. É claro que a quantidade e o cuidado com as árvores variam de bairro em bairro, mas no geral há mais árvores por rua em Assunção do que em muitas cidades que conheci. E o legal é que misturam frutíferas e de sombra. Há ruas só de limoeiros, que acredito serem fornecedores do suco para o terere; a sombra é fundamental para amenizar o forte calor da cidade e é embaixo desses sombras que os paraguios colocam suas cadeiras para tomar terere, conversar e ver o movimento dos finais de semana.
               Adoro árvores desde pequeno e creio que o lugar delas é na cidade. Legal defender as florestas, os bosques e as matas, mas o homem está nas cidades e a arborização urbana para mim é algo fundamental para a qualidade de vida. Muito defensor das florestas nunca plantou uma árvore no seu bairro.
               O que causa maior curiosidade aqui são as árvores literalmente no meio da rua. Já ouvi que um antigo governante proibia qualquer tipo de corte de árvore e por isso as ruas hoje as contornam. O que em um primeiro momento pode causar espanto ao visitante, para mim é sinal mais profundo de desenvolvimento. Mesmo um eucalipto é mais importante que o fluxo de carros!
                Está na hora de plantarmos mais árvores de verdade nas ruas do Brasil. Ultimamente estamos sofrendo a ditadura das palmeiras-lançamento-imobiliário,que não dão frutos, nem flor e nem sombra.
Um eucalipto no meio da rua
Lapacho Rosado

Lapacho Rosado

Lapacho amarilo

Lapacho amarilo

Palo borracho. Muito bom o nome da paineira.
Um eucalipto enorme no campo de rugby do CURDA



Flamboyant


Limoeiro em frente a Embaixada do Brasil



Flamboyant na rua do Consulado do Brasil

A rua do mercado de flores.



Rua de Assunção

Ciclovia arborizada.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As bibliotecas mais bonitas do mundo

           Este vídeo que fiz acabou de alcançar as duas mil visualizações. Há dois tipos de construções pelas quais eu sou fascinado: bibliotecas e estações de trem. Ao mesmo tempo em que são expressões arquitetônicas que têm o poder de singularizar o local em que estão, têm por função nos levar para longe, seja fisica ou emocionalmente. Essa dualidade entre o local e o distante sempre marcou minha vida.
           Dificilmente conhecerei biblioteca mais bonita que a do Trinity College, em Dublin. Estar lá dentro é algo indescritível. É o Maracanã dos aficcionados por livros. Infelizmente não se pode tirar fotos do local, mas eis aqui uma que retirei da internet:

 Aqui está o meu vídeo. Não soube colocar as legendas, mas no final tem os links de onde tirei as fotos.

Acrescento esta lista de bibliotecas que encontrei na internet. Está faltando o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, para mim uma das bibliotrecas mais bonitas do mundo.

http://www.thebestcolleges.org/amazing-libraries/

domingo, 4 de dezembro de 2011

Cachaças: boas surpresas em 2011


            Neste ano descobri cachaças muito boas, que comprei sem referência prévia, mas que no primeiro gole entraram para a lista das minhas preferidas. Por não serem facilmente encontradas em todos os cantos do Brasil são ainda mais especiais. Como bebo pouco e consumo mais na companhia de amigos, o fato dessas cachaças terem acabado rapidamente é um bom indício de sua qualidade e aceitação.
           
Cachaça Mucambo
            Comprei essa cachaça em um posto de gasolina em Goianinha-RN, enquanto voltava de São José de Mipibu pra Natal, na casa do meu grande amigo e parceiro de degustação Pipo Abbott. Depois descobri que a cachaça, irmã das mais conhecida Maria Boa, é produzida ali mesmo, em Goianinha, centro tradicional de produção de cachaças no Rio Grande do Norte. Envelhecida em barris de amburama, a Mucambo tem uma ótima apresentação, com rótulo moderno e simples. Sua coloração é bem amarelada e, além de ser gostosa de tomar, a Mucambo tem um aroma único, que nunca encontrei em outra cachaça. Tudo bem que compramos cachaças pra beber, mas para quem gosta de experiências multisensoriais ao beber um dose (modo "enólogo babaca" ligado) vale a pena experimentar. Infelizmente comprei apenas uma garrafa de 300 ml e agora espero um nova viagem pra Natal para reintegrá-la à coleção.
Aqui está o site da cachaça: http://www.cachacasdegoianinha.com.br/

Cachaça Dedo de Prosa
              Essa foi sem dúvida a maior surpresa em 2011. Ganhei de presente do meu pai, que a comprou em Itajubá-MG. Produzida em Piranguinho, no sul de Minas, a versão envelhecida em caravalho foi o maior sucesso etílico entre as visitas lá em casa. Durante um churrasco, o pai de um amigo a pediu encarecidamente de presente! Quando acabou a de carvalho, comprei a envelhecida em Louro Canela, que também é espetacular. Me chamou a atenção o fato de ter agradado muito ao público feminino também, algo não muito fácil para as cachaças.
              Para se ter uma idéia da seriedade com que é feita, vale a pena dar uma olhada no site: http://www.cachacadedodeprosa.com.br/

Cachaça Áurea Custódio
               Fui a Belo Horizonte para o St. Patrick`s Day do BH Rugby e, como não poderia deixar de ser, passei no Mercado Municipal para comer pastel e comprar cachaça. Estava pesquisando o preço dos barris em uma das lojas quando entrou um cliente e perguntou ao dono sobre a Áurea Custódio. Apesar de depois ter descoberto que a cachaça já ganhou prêmios, ela era então desconhecida para mim. O vendedor disse que havia sim e que custava R$57,00! Ao ouvir o preço, como bom filho de mineiros, pensei logo se tratar de combinação entre o visitante e vendedor. No entanto, a convicção dos dois era tanta sobre a qualidade da cachaça, envelhecida por 3 anos em carvalho, que não resisti e levei. Apesar do preço, que descobri ser este mesmo, a Áurea Custódio, de Ribeirão das Neves-MG, valeu a pena. Foi dessas cachaças que pude oferecer sem medo, pois agradou a todos. Deixou saudade na coleção.

Cachaça Orgulho Mineiro
              Essa foi outra das contribuições dos meus pais em suas viagens pelo sul de Minas. Produzida em Borda da Mata-MG, a Orgulho Mineiro chama a atenção pela garrafa envolta em cortiça e pelo copo em formato de barril que a acompanha. Ela exala um odor muito agradável, daqueles que avisam: vem cachaça pela frente! Estive conversando com um amigo do meu pai sobre pingas quando ele a recomendou, atestando o que eu já havia achado sobre a pinga.