"Em briga de saci, qualquer chute é voadora"
Ditado caipira
Ditado caipira
Já faz uns três anos que comecei a acreditar em Saci e deixar minha imaginação atribuir a esse mito caipira algumas peças de que somos vítimas no cotidiano.
Desse modo ficou mais fácil saber quem trocou o sorvete por feijão no pote que estava no congelador, quem jogou água no chão do banheiro pra eu pisar de meia, quem desmarcou a página do livro que estava lendo ou quem empurrou minha mão na hora que eu estava abrindo o iogurte e fez o papel rasgar no meio. Isso sem falar nos inúmeros pés de meia perdidos, que ele levou pro meio do mato junto com aquele guarda-chuva que eu tinha certeza que estava no carro.
Passei a me divertir mais com essa história. Quando vejo um cavalo correndo em disparada sozinho, tenho certeza que em cima dele estava o saci, cavalgando feliz com sua traquinagem.
Comecei a me interessar por sacis quando ele se tornou um símbolo da resistência caipira contra a invasão mitológica gringa. Em São Luiz do Paraitinga criaram a Sosaci, sociedade dedicada a observar sacis. Que lindo poder falar para os outros que você viu um saci sem o menor constrangimento! Uma das vitórias do movimento foi a aprovação de lei estadual em São Paulo oficializando o dia 31 de outubro como o dia do saci. Com o halloween crescendo absurdamente, é interessante ver a data como uma oportunidade para relembrar nossos monstros da mitologia caipira.
Para quem gosta do assunto, recomendo vivamente o principal livro sobre sacis: "Saci-Perere: o Resultado de um Inquérito", do Monteiro Lobato. Publicado em 1918, o livro é resultado das cartas de leitores do Estadão com depoimentos sobre o Saci. Logo depois, em 1921, Monteiro Lobato lançou o infantil "O Saci", que também é ótimo, um verdadeiro dicionário das lendas rurais do Brasil.
A última grande aparição na mídia do Saci foi a campanha para que fosse escolhido mascote da Copa de 2014. Infelizmente não rolou, mas é legal ver que seu mito tem sido redescoberto e revalorizado. Quem sabe um dia não veremos tantos sacis no Brasil como Leprechauns na Irlanda?
Para finalizar, aqui vai a tatuagem de uma grande amigo, caipira também do Vale do Paraíba e um dos caras que mais entende de educação que já conheci, Daniel Leite:
Grande PC, sabes que minha crença no menino travesso de uma perna só vem de longe. Aliás um desses reside definitivamente em meu braço direito, aquele Saci já eternizado pelo grande Ziraldo. Parabéns pelo texto e qualquer dia desses vamos marcar para realizar uma observação de sacis, já que a caça do mesmo atualmente não é politicamente correta. Meu grande abraço
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