quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

São José, um amor em azul e amarelo

      
       Antes de começar a falar de futebol aqui tenho que admitir que não há nenhuma racionalidade em perder seu humor porque os 11 caras da sua cidade não conseguiram fazer a bola passar mais vezes do que o necessário pelo gol do time adversário. Desde que meu filho nasceu comecei a me importar menos com futebol e mais com o tempo que passo com ele. Tem dado certo em alguma medida. Já não perco meu tempo vendo jogos de outros times considerados importantes. A paixão pelo rugby ofuscou ainda mais o entusiasmo pelo futebol. Este autocontrole zen vai por água abaixo, no entanto, quando as cores azul e amarelo entram em campo. Assim como o Pateta fica transtornado quando entra no carro e se aventura no trânsito, fica difícil me controlar quando passo pelas portas do Martins Pereira para torcer pro São José. Desde bebê fui levado para o estádio pelo meu pai, de quem herdei a paixão pelo São José. Esse tipo de amor não se apaga de um dia pro outro.
        Quando me perguntam pra que time eu torço e digo São José as pessoas têm uma grande dificuldade em me levar a sério. Parece que eu falei que torço pro Marte F.C. Dependendo de quem pergunta, pra encurtar a conversa, acabo dizendo que sou palmeirense. Já fui, mas não ligo mais, apesar de não acreditarem. 
      Meu colega Rezek, apaixonado pelo Uberlândia, um dia perguntou pra minha mulher para quem eu torceria num jogo entre Palmeiras e São José. Ela respondeu erroneamente Palmeiras e o Rezek cochichou no meu ouvido: se fosse minha mulher eu separava.  
       Torcer para um time é fazer parte de um grupo, de uma identidade. Por que torcemos? Se seu time ganha, você se sente ganhador e mais feliz, a sociedade teoricamente o respeita mais, aumenta sua autoestima e você acredita que fará mais sucesso com o sexo oposto (ou não), objetivo único de todas as atividades humanas. Se isso é verdade, então por que torcer para um time cuja única conquista relevante é o vice-campeonato paulista de 1989? Acho que diante das adversidades de ser um time do interior, cada vitória sobre o rival de outra cidade é uma injeção de autoestima. É como se falássemos: "nós, aqui de São José, somos melhores! Temos os melhores genes! Ganhamos até de times maiores". Mas isso é só uma teoria de racionalizar um sentimento difícil de explicar. Vou ao estádio porque é legal, simples assim. Adoro ir na companhia do meu pai, vestir minha camisa velha da sorte (que nem minha mãe nem minha mulher me deixam usar em casa), poder parar o carro na porta, comprar o ingresso na hora, sentir o cheiro dos churrasquinhos de gato, comer pipoca com queijo, xingar o juiz, gritar gol, pedir substituição e ser atendido (em estádio pequeno dá), encontrar meu amigo Biri, conversar com desconhecidos.
         Estes dias estava jogando bola com meu filho na quadra em frente de casa. Observando as crianças vi camisas do Mancheter, Chelsea, Barcelona, Real Madrid e Milan. Havia uma única camisa de time brasileiro, a do Corinthians. Quando separamos os times, um deles escolheu ser o Corinthias e o outro, para minha surpresa, o Barcelona. Como pode, num país pentacampeão do mundo, as crianças escolherem torcer para times de outro continente? Se você liga na ESPN ou SPORTV provavelmente conseguirá saber o resultado e ver os gols de Hull x Bolton, Benfica x Marítimo ou Lecce x Torino. Mas experimente descobrir quanto foi Taubaté x XV de Jaú. Missão quase impossível nos dias atuais. A ESPN agora deu de transmitir o campeonato russo! Assim, vivemos hoje em uma sociedade em que você tem o incrível privilégio de acompanhar ao vivo Lokomotiv x Rubin Kazan mas não consegue saber como foi o gol do time de sua cidade.
         Depois da experiência de ver os meninos todos torcendo "pras Europa", achei que estava mais do que na hora de levar o meu para ver o jogo do São José. E lá fomos nós. Nesses momentos é que você vê aquele comercial de margarina sobre paternidade tornar-se realidade diante dos seus olhos. Levar meu filho ao estádio foi voltar ao passado e lembrar das inúmeras vezes em que fui carregado pelo meu pai. Deu pra ver os olhinhos dele brilhando na primeira vez que viu um estádio cheio. Era São José x Guarani, para um público de mais de 5 mil pessoas. Gotas de água salgada da mais viril masculinidade escorreram do meu rosto ao vê-lo gritando São José. Era a paixão por um time sendo transmitida à terceira geração.
          Assim como sempre acontece com seu padrinho, meu filho logo foi atraído pela baixa-grastronomia no estádio. Pipoca, picolé, amendoim, cachorro quente e coca-cola gelada! Aliás, o Barcelona pode até ter o Messi, mas não tem um picolé de limão tão bacana como esse aí do lado.
     Devo confessar que o jogo não foi tão divertido pra ele. Acostumado com o Playstation, em que os jogos acabam no mínimo 10x8, deu pra ver que ele achou o 0x0 do primeiro tempo entediante. No intervalo, me disse: Papai, queria que o Pelé jogasse no São José, porque daí eu poderia ver uns gols.
       No primeiro tempo o time foi realmente mal, o que gerou a segunda frase do dia:
           - Papai, o moço ali atrás falou "Vai tomar no C*"!
       -Eu ouvi filho, mas se você repetir isso em casa eu to ferrado.         
        No segundo tempo o time rendeu mais e fez dois gols, para nossa alegria! A Águia do Vale ganhou não só os três pontos, mas também um novo torcedor! Quando chegamos em casa minha mãe disse: "Xii, mais um pra ir feliz ao estádio no domingo ver o São José e voltar cabisbaixo depois do jogo"!
          Já são 12 anos na segunda divisão do Paulista, espero que este ano possamos gritar é campeão.
         Se você ainda não é pai e quer saber qual é a emoção de levar seu filho ao estádio pela primeira vez, este vídeo é um belo exemplo:




4 comentários:

  1. sinto mesmo por torcer pelo sport em Brasília.

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  2. Paulo, muito bom seu texto. Só quem é São José pode compreender bem todas as sensações descritas. Valeu!

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  3. Oi PAULO CEZAR, tudo bem?

    Aqui é o FABIANO MARINI, do blog torcedordaaguia.blogspot.com, de SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Emocionante seu texto, gostei muito.

    Um grande abraço!!!

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  4. Oi Paulo Cezar! Adorei seu texto. Me emocionei. Você nao me conhece, mas eu sou amiga de sua mãe e sua tia Gina desde a infância. Abraço.
    Rita Baiao Sao José dos campos.

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