A frase “os
caipira é foda” já se tornou um clássico do São José Rugby. No dia em que o
time se tornou heptacampeão brasileiro de rugby eu estava coincidentemente lendo
um livro chamado Soccernomics, dos ingleses Simon Kuper e Stefab Szymanski. O
livro é muito ruim, infelizmente, pois sou fã da série Freakonomics, mas tem
uma teoria interessante: os times europeus de futebol do interior são
mais bem sucedidos que os das capitais.
Com dados do
Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique, Milan e Lyon, os autores
mostram como os torneios europeus foram dominados por times provincianos. O porquê disso? Segundo os autores, as
cidades do interior têm muito mais a provar do que as capitais. As capitais já
teriam motivos suficientes para se orgulharem e o título no futebol não é a
grande preocupação da população. Os autores chamam a atenção para o fato de que
as torcidas do interior cantam músicas sobre suas cidades, o que dificilmente
você verá em algum time de Londres ou Paris. Mas o que isso tem a ver com o
rugby? A frase “os caipira é foda” pode ser um bom indicativo de que no rugby a
teoria dos times do interior também se aplica.
Fui pesquisar
se no rugby os times do interior se saíram bem em 2011 e pude chegar a estes
dados sobre os campeões:
- Heineken Cup: Leinster (Dublin, 525 mil
habitantes)
- Super 15: Queenslan Reds (Brisbane, 2 milhões de habitantes)
- Liga Celta: Munster (Limerick, 90 mil
habitantes)
- Campeonato francês: Toulouse,
(Toulouse, 439 mil habitantes)
- Campeonato inglês: Saracens, (Watford,
120 mil habitantes)
- Campeonato italiano: Benetton Treviso,
(Treviso, 82 mil habitantes)
- Campeonato argentino: Duendes (Rosário,
1 milhão de habitantes)
- Campeonato sul-africano: Pampas XV
(combinado argentino)
- Campeonato neozelandês: Canterbury
(Time da região de Canterbury, 560 mil habitantes)
- Campeonato brasileiro: São José Rugby (São José dos Campos, 636 mil habitantes)
A única
exceção à extensa lista é o Leinster, apesar de eu achar que Dublin, se
comparada às outras capitais européias, não é bem o que chamamos de metrópole e
os irlandeses tem muito a provar para seus vizinhos ingleses. De qualquer forma, o principal
ganhador da Heineken Cup é Toulouse, time mais bem sucedido da Europa com 4
títulos.
Mas será que o
fato de ser do interior realmente exerce alguma influência no jogo? Os autores
dos Soccernomics dizem que sim. Apesar de eles não considerarem o fato de que,
via de regra, há sempre mais times do interior do que da capital em um
campeonato, o que aumenta a probabilidade de o vencedor vir do interior, há
algo que se possa aproveitar desta teoria.
Diferentemente
do futebol americano*, cuja ênfase é colocada na conquista de novos espaços – conforme
o histórico destino dos Estados Unidos de avanço sobre novas terras- tenho pra
mim que o rugby é praticamente um jogo de defesa de território. É claro que se
há alguém defendendo é porque há alguém atacando, mas o meu sentimento é de que
a defesa é mais importante do que o ataque no rugby. Pergunte a alguém
qual é o movimento fundamental do rugby e tenho certeza que muitos dirão o
“tackle” e não o “passe” ou o “drible”.
Em se tratando
de defender suas terras, as pequenas cidades da Europa têm um Know-how
invejável. E o que dizer então da luta dos povos aborígenes da Oceania ou mesmo
da Irlanda, Escócia e África do Sul contra o domínio de suas terras pelos
ingleses? Quando falamos em Copa do Mundo de Rugby, são 6 títulos para as colônias e 1 para a metrópole. Em um de seus Hakas, o "Kapa
o Pango", a seleção da Nova Zelândia grita aos seus adversários: “Essa
é minha terra, que vibra” / “Nosso domínio, nossa supremacia triunfará”:
Na França, a rivalidade entre interior e capital ganhou destaque em 2008 quando o Stade Français, de Paris, lançou a provocativa camisa abaixo, estampando a Rainha Branca de Castela, responsável por anexar a região occitana ao domínio parisiense. Vale lembrar que grandes times franceses do interior, como o Toulouse, vêm dessa região. Imagino como deve ter sido jogar de visitante com essa camisa...
Não podemos ser simplistas de achar que só porque é do interior o time tem mais chance de vencer. No entanto, o orgulho interiorano e a vontade de triunfar sobre os "primos ricos" podem, sim, exercer alguma influência sobre os treinamentos e a preparação. Creio que defender a cidade pese muito mais na atitude do atleta do que defender um clube e em nenhum outro esporte o sentindo de orgulho e coletividade está tão presente quanto no rugby.
AQUI NÃO!!! |
*o atual campeão da NFL é o Green Bay Packers (Green Bay, 100 mil habitantes)
Discordo, quando a parte de o tackle ser o fundamento mais importante, o rugby para quem pratica com consciência sabe que o coletivo é o mais importante consequentemente quem mais representa isso é o passe, que demonstra confiança e união entre os jogadores .
ResponderExcluirMas talvez, tem que acha que o e mesmo de defender território como vc e que ai sim o tackle pode se tornar a base do jogo. Para mim é meio obvio que o ataque a continuidade então a conquista de metro a metro e a base do jogo, usando o passe.
abraços Parabéns pelo Post, tbm achei o livro soccernomics um saco!
Grande Pc, gostei muito do texto!! Parabéns parcero de cachaça e logo mais de campo também!!!! Abração
ResponderExcluirBoa PC!! os caipira é foda!!!!
ResponderExcluirZappa
Discordo do flavio... o apoio eh mais importante que o passe, estar por perto confiando na decisão do colega portador da bola resume melhor o jogo coletivo, tu joga de ponta, neh?
ResponderExcluirGabriel Chopes Romero
Realmente, a galera de São Paulo por exemplo, não joga pela cidade, e sim pelo clube. Já do interior, joga pela sua terra natal, tentando levar o nome a diante (ou talvez, jogue pela terra natal por falta de opção de clubes)
ResponderExcluirEstou lendo o Soccernomics e estou gostando bastante.
ResponderExcluirAcho essa teoria do interior bem interessante e os autores ainda colocam que pessoas vindas de outras cidades ou países chegam as cidades interioranas e se apegam aos clubes locais como forma de se adaptar melhor, consequentemente os clubes ganham mais torcedores.