segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Rugby: um esporte de caipira?


A frase “os caipira é foda” já se tornou um clássico do São José Rugby. No dia em que o time se tornou heptacampeão brasileiro de rugby eu estava coincidentemente lendo um livro chamado Soccernomics, dos ingleses Simon Kuper e Stefab Szymanski. O livro é muito ruim, infelizmente, pois sou fã da série Freakonomics, mas tem uma teoria interessante: os times europeus de futebol do interior são mais bem sucedidos que os das capitais.
Com dados do Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique, Milan e Lyon, os autores mostram como os torneios europeus foram dominados por times provincianos. O porquê disso? Segundo os autores, as cidades do interior têm muito mais a provar do que as capitais. As capitais já teriam motivos suficientes para se orgulharem e o título no futebol não é a grande preocupação da população. Os autores chamam a atenção para o fato de que as torcidas do interior cantam músicas sobre suas cidades, o que dificilmente você verá em algum time de Londres ou Paris. Mas o que isso tem a ver com o rugby? A frase “os caipira é foda” pode ser um bom indicativo de que no rugby a teoria dos times do interior também se aplica.
Fui pesquisar se no rugby os times do interior se saíram bem em 2011 e pude chegar a estes dados sobre os campeões:

- Heineken Cup: Leinster (Dublin, 525 mil habitantes)

- Super 15: Queenslan Reds (Brisbane, 2 milhões de habitantes)

- Liga Celta: Munster (Limerick, 90 mil habitantes)

- Campeonato francês: Toulouse, (Toulouse, 439 mil habitantes)

- Campeonato inglês: Saracens, (Watford, 120 mil habitantes)

- Campeonato italiano: Benetton Treviso, (Treviso, 82 mil habitantes)

- Campeonato argentino: Duendes (Rosário, 1 milhão de habitantes)

- Campeonato sul-africano: Pampas XV (combinado argentino)

- Campeonato neozelandês: Canterbury (Time da região de Canterbury, 560 mil habitantes)

- Campeonato brasileiro: São José Rugby (São José dos Campos, 636 mil habitantes)

A única exceção à extensa lista é o Leinster, apesar de eu achar que Dublin, se comparada às outras capitais européias, não é bem o que chamamos de metrópole e os irlandeses tem muito a provar para seus vizinhos ingleses. De qualquer forma, o principal ganhador da Heineken Cup é Toulouse, time mais bem sucedido da Europa com 4 títulos.
Mas será que o fato de ser do interior realmente exerce alguma influência no jogo? Os autores dos Soccernomics dizem que sim. Apesar de eles não considerarem o fato de que, via de regra, há sempre mais times do interior do que da capital em um campeonato, o que aumenta a probabilidade de o vencedor vir do interior, há algo que se possa aproveitar desta teoria.
Diferentemente do futebol americano*, cuja ênfase é colocada na conquista de novos espaços – conforme o histórico destino dos Estados Unidos de avanço sobre novas terras- tenho pra mim que o rugby é praticamente um jogo de defesa de território. É claro que se há alguém defendendo é porque há alguém atacando, mas o meu sentimento é de que a defesa é mais importante do que o ataque no rugby. Pergunte a alguém qual é o movimento fundamental do rugby e tenho certeza que muitos dirão o “tackle” e não o “passe” ou o “drible”. 
Em se tratando de defender suas terras, as pequenas cidades da Europa têm um Know-how invejável. E o que dizer então da luta dos povos aborígenes da Oceania ou mesmo da Irlanda, Escócia e África do Sul contra o domínio de suas terras pelos ingleses? Quando falamos em Copa do Mundo de Rugby, são 6 títulos para as colônias e 1 para a metrópole. Em um de seus Hakas, o "Kapa o Pango", a seleção da Nova Zelândia grita aos seus adversários: “Essa é minha terra, que vibra” / “Nosso domínio, nossa supremacia triunfará”:

Na França, a rivalidade entre interior e capital ganhou destaque em 2008 quando o Stade Français, de Paris, lançou a provocativa camisa abaixo, estampando a Rainha Branca de Castela, responsável por anexar a região occitana ao domínio parisiense. Vale lembrar que grandes times franceses do interior, como o Toulouse, vêm dessa região. Imagino como deve ter sido jogar de visitante com essa camisa...
Não podemos ser simplistas de achar que só porque é do interior o time tem mais chance de vencer. No entanto, o orgulho interiorano e a vontade de triunfar sobre os "primos ricos" podem, sim, exercer alguma influência sobre os treinamentos e a preparação. Creio que defender a cidade pese muito mais na atitude do atleta do que defender um clube e em nenhum outro esporte o sentindo de orgulho e coletividade está tão presente quanto no rugby.

AQUI NÃO!!!

*o atual campeão da NFL é o Green Bay Packers (Green Bay, 100 mil habitantes)

6 comentários:

  1. Discordo, quando a parte de o tackle ser o fundamento mais importante, o rugby para quem pratica com consciência sabe que o coletivo é o mais importante consequentemente quem mais representa isso é o passe, que demonstra confiança e união entre os jogadores .
    Mas talvez, tem que acha que o e mesmo de defender território como vc e que ai sim o tackle pode se tornar a base do jogo. Para mim é meio obvio que o ataque a continuidade então a conquista de metro a metro e a base do jogo, usando o passe.

    abraços Parabéns pelo Post, tbm achei o livro soccernomics um saco!

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  2. Grande Pc, gostei muito do texto!! Parabéns parcero de cachaça e logo mais de campo também!!!! Abração

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  3. Boa PC!! os caipira é foda!!!!

    Zappa

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  4. Discordo do flavio... o apoio eh mais importante que o passe, estar por perto confiando na decisão do colega portador da bola resume melhor o jogo coletivo, tu joga de ponta, neh?


    Gabriel Chopes Romero

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  5. Realmente, a galera de São Paulo por exemplo, não joga pela cidade, e sim pelo clube. Já do interior, joga pela sua terra natal, tentando levar o nome a diante (ou talvez, jogue pela terra natal por falta de opção de clubes)

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  6. Estou lendo o Soccernomics e estou gostando bastante.
    Acho essa teoria do interior bem interessante e os autores ainda colocam que pessoas vindas de outras cidades ou países chegam as cidades interioranas e se apegam aos clubes locais como forma de se adaptar melhor, consequentemente os clubes ganham mais torcedores.

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