quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Música sertaneja: assim você me mata

           O que é uma música boa? Aquela que tem um ritmo bom? Aquela que tem uma letra de qualidade? Ou aquela que faz o pessoal dançar? Apesar de não entender muito de música, fico sempre querendo saber o que faz uma canção ter mais aceitação do que outra. Por que o rock é capaz de levar tanta gente ao Rock in Rio, em um país que tem ritmos tão diferentes do norteamericano? Sempre me questiono se o rock obteve um grau de excelência tão alto que o faz ter uma aceitação internacional ou se é simplesmente mais um produto da cultura americana que soube se vender pelo mundo, como o McDonald's e os filmes hollywoodianos. Comer um BigMac, por mais gostoso que seja, não é a mesma coisa que comer outro sanduíche. Há todo um conjunto de valores por trás da simples compra de um alimento. Creio que o mesmo se passa com a música.
           Se o segredo do sucesso de uma música fosse só a letra, como explicar a fama desta música dos Beatles?

You say "Yes", I say "No".
You say "Stop" and I say "Go, go, go".
Oh no.
You say "Goodbye" and I say "Hello, hello, hello".
I don't know why you say "Goodbye", I say "Hello, hello, hello".
I don't know why you say goodbye, I say hello.
I say "High", you say "Low".
You say "Why?" And I say "I don't know".

          Se fosse só o ritmo, por que quase ninguém compra CDs instrumentais?
          Falar de gosto musical no Brasil é algo tão sensível quanto falar de política ou religião.

       Recentemente, temos visto a ira de internautas contra o sucesso mundo a fora da música "Ai se eu te pego" do Michel Teló. Dizem até que a música é um prelúdio do final dos tempos em 2012. Será que é pra tanto?
       Acontece que há um grupo que realmente acha que o tipo de música que você ouve o torna mais ou menos inteligente. Se você ouve Janis Joplin, UAU!, você é inteligente. Se você ouve Vieira e Vieirinha, você não passa de um caipira burro. Acreditar que a inteligência entra pelos ouvidos com a música não faz meu tipo. Aliás, assim como meu sogro, acredito que o conhecimento entra pela bunda, pois quanto mais tempo com a bunda na cadeira estudando, daí sim mais inteligente você fica. Entender de música clássica, jazz e outros ritmos pode torná-lo aquilo que a sociedade considera como culto, mas não inteligente.
      Todo mundo tem um momento de ouvir algo mais sério, mais bem elaborado. Mas a vida de alguém que nunca pôs uma música bem brega no último volume para dançar e cantar em casa deve ser bem chata.
      O que mais me impressiona na revolta contra o Michel Teló é que a raiva parte de pessoas que consomem o mesmo "naipe" de música sem nenhuma crítica quando esta vem em inglês, francês, espanhol ou italiano. O que as rádios brasileiras tocam sem o menor filtro é impressionante. No livro "A Música Caipira" do jornalista do Globo Rural, José Hamilton Ribeiro, tem uma frase interessante: " Um povo conquista o outro pela música, pelas artes. Pode, para isso, usar exércitos, tanques e canhões, poder econômico e pressão política e psicológica, mas tudo isso como ferramenta. Seu objetivo último é conquistar corações e mentes, e isso se dá quando o povo colonizado despreza sesus próprios valores culturais por ter assumido o padrão do colonizador". Era exatamente assim que agiam os jesuítas quando chegaram na América do Sul. É também, pelo que me lembro das aulas da FFLCH, o que Gramsci dizia sobre o sonho de toda potência hegemônica, que é fazer o colonizado imaginar que o melhor para si é o que está dizendo o colonizador.
       Agora que estamos crescendo como país e começamos a exportar nossa cultura mais popular estamos sendo criticados por nós mesmos. O Michel Teló é exemplo do Soft Power brasileiro. Os gringos podem não entender uma palavra da música, mas gostam dela pelo ritmo, pela alegria e, sem dúvida alguma, porque é do Brasil.

6 comentários:

  1. Kra, você mandou muito bem, cumpadi. Eu também adoro "la chanson française", "the amarican way of music", "una cancione italiana", e "por supuesto, una hermosa" música andina, latina e outros lixos ou luxos. Mas, o que me faz olhar pra dentro da minha alma, olhar ao longo da "estrada da vida" é mesmo uma música caipira... Não sei se sou burro, culto ou inteligente, mas minha alma sabe o que é bom.

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  3. Aquele que gosta de um só gênero, aliena-se.
    É preciso valorizar todo e qualquer tipo de manifestação artística. A música traz muito mais do que uma simples sonoridade. Ela é o reflexo e o espelho da sociedade, na qualidade de constatação e, raras as vezes, crítica.
    Parabéns pelo blog PC! Mto bom!

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  4. Grande Pc! To gostando de ver!
    Vou deixar aqui meu comentário também, pela primeira vez no blog!
    Acho que as pessoas reclamam mesmo não é da música em si e sim por, talvez, pensarem ser injusto e ficam revoltados por alguém ganhar tanta grana e sucesso com alguma coisa que, provavelmente, foi feita em minutos num momento de brincadeira ou no banheiro. Mais ou menos como os "famosos" ex-bbb´s! (Tá aí um bom tema hein..hehe)
    Se é bom ou ruim? Acho bem ruim! Nunca vou ouvir no meu carro. Por outro lado, eu mesmo coloquei essa música pra tocar na festa do fim de ano e todo mundo se divertiu, inclusive eu!
    Tem hora pra tudo! Viva o bom senso! Mas, temos de convir que a versão em inglês é totalmente desnecessária! Vai contra a expansão tupiniquim e só faz provar que a vontade do colonizador continua dando certo!
    Valeu, Pc! Abraço!

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  5. Bem colocado, Paulo Cesar. Mas, na minha opinião, faltou mencionar um elemento importante, que é a aversão da "intelligentsia"brasileira a tudo o que faz sucesso. Pra ser considerado "música de qualidade", tem que mamar em leis de incentivo e fazer xou pra meia duzia de capangas com óculos de aro grosso em alguma biboca da Augusta. Não ouço o Michel Teló nem qualquer coisa que possa ser chamada de Sertanejo Universitário na minha casa, mas se o cara vende horrores de discos e faz turnê na Europa, qualé o problema?
    Sugiro também a leitura de "Eu não sou cachorro não", do teu xará Paulo Cesar de Araújo, sobre música "brega" no período da ditadura. Discute com propriedade a questão do gosto na música popular do Brasil. Abraço

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  6. É verdade, tanta gente q critica isso e dançava na boquinha da garrafa... Eu acho q existe alguma relação com o gosto geral pra arte e inteligência, pq alguém q não tem mta elaboração mental pra nada tb terá menos tendência a apreciar uma música mais elaborada. Mas tb não acho q isso seja uma regra, mas uma tendência.

    Gostar apenas de música mto simples ou apenas de música mto complicada é um pé no saco. O bom na vida é o equilíbrio.

    Eu senti duas coisas conflitantes qdo vi o sucesso do Teló no mundo inteiro... Uma certa felicidade de exportar merda para qm exporta merda pra cá há décadas e uma certa tristeza pq o mundo inteiro estava simpatizando com uma coisa tão fraquinha do Brasil, sendo que aqui temos músicas nada intelectualizadas que são mto melhores... mas gosto é gosto...

    Mto legal seu blog!

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