Templo de Angkor- Camboja |
"Y nunca olvides que las ciudades no son sino accidentes que no prevalecerán frente a los árboles"
Deparei-me com a frase acima, de autoria do poeta chileno Jorge Teiller, lendo uma crônica do igualmente poeta, mas paraguaio, Mário Casartelli. Foi também por meio da crônica, publicada no jornal Última Hora, que conheci uma história curta, mas muito bonita, com um título convidativo: "O homem que plantava árvores". A obra, do francês Jean Giono, narra a história de um solitário camponês e sua obstinação por plantar árvores. Os bosques, plantados com paciência e determinação pelo um simples homem, sobreviveram a duas guerras mundiais e trouxeram vida às antes desoladas paisagens.
Por uma dessas felizes coincidências, estava eu passando pela rua perto de casa quando reparei nesta muda de ipê, lutando para se desenvolver entre o paralelepípedo e o asfalto da rua.
Muda de ipê |
Na hora me veio à mente a frase de Teiller e a imagem dos templos de Angkor, no Camboja, com aquelas figueiras enormes ocupando o lugar outrora dedicado aos cultos.
Minha paixão pelas árvores vem desde pequeno. Tive o privilégio de crescer em um ambiente com diferentes tipos de árvore. Pude brincar de Robin Hood nos bosques de eucalipto, tive espadas fornecidas pelos guapuruvus, fui Indiana Jones nos galhos de flomboyant e construtor de traves de futebol com bambus. Isso sem contar as árvores frutíferas. Já sabíamos de cór onde podíamos comer cada fruta no bairro.
Em frente ao quintal de casa havia um flamboyant desenhado especialmente para crianças. Seu tronco não subia para o inalcançável, mas era caprichosamente torto e baixo e nos convidava para subir como se fosse uma simples rampa. Na árvore era possível escorregar, pular nos galhos ou simplesmente ficar sentado conversando. Era ali que nos reuníamos para decidir do que íamos brincar e era dali que ouvíamos o grito de nossas mães que o almoço esta na mesa.
Em frente ao quintal de casa havia um flamboyant desenhado especialmente para crianças. Seu tronco não subia para o inalcançável, mas era caprichosamente torto e baixo e nos convidava para subir como se fosse uma simples rampa. Na árvore era possível escorregar, pular nos galhos ou simplesmente ficar sentado conversando. Era ali que nos reuníamos para decidir do que íamos brincar e era dali que ouvíamos o grito de nossas mães que o almoço esta na mesa.
As árvores também me fazem lembrar meu avô. Quando chegávamos em sua casa, ele queria logo que fossemos ver o terreno onde plantava de tudo um pouco. Não me esqueço do orgulho dele em nos mostrar as laranjeiras, limoeiros, bananeiras e pessegueiros produzindo. Hoje entendo melhor seu orgulho e compartilho a paixão por plantar árvores. Ainda tenho um grande caminho pela frente, mas espero compensar meu gasto de papel até o final da vida e ainda deixar um crédito verde para as próximas gerações.
Em Brasília deixei apenas uma jabuticabeira, infelizmente. As pessoas me tachavam de chato quando eu dizia que a capital tinha poucas árvores. Devo reconhecer que era uma injúria de minha parte, pois a cidade foi planejada para ter árvores das mais diversas espécies, para estar sempre florida. Foi um privilégio poder acompanhar por três anos os ciclos de florescimento das árvores. Eu já estava começando a decorar a ordem das floradas. Dizem que Burle Marx queria que fosse possível reconhecer a quadra pelos tipos de árvores nelas plantadas, mas como a maior parte das mudas eram exógenas, não sobreviveram a seca que atinge a cidade todos os anos. Creio que foi na década de 1970 que houve um verdadeiro desastre natural, quando centenas de árvores trazidas da mata atlântica morreram na W3 por não aguentarem as condições climáticas do cerrado.
O motivo da minha bronca com Brasília é que há muito espaço mal aproveitado para plantar árvores, principalmente na Esplanada dos Ministérios. Não vou com a cara daquele chão batido, com cara de estacionamento. Para mim, a Esplanada seria muito mais bonita com bancos, árvores e passeios. Lembro que no documentário "A Vida é um Sopro", sobre a obra de Niemeyer, o ilustre arquiteto afirma que é besteira criticar a Praça dos Três Poderes porque nela não há árvores. Para ele, o importante é a beleza da arquitetura.
Deixa estar, sabichão, um dia as árvores prevalecerão.
Deixa estar, sabichão, um dia as árvores prevalecerão.
Quanta gente, quanta alegria! |
Link para o livro "O Homem que plantava árvores": http://www.ecocidio.com.br/wp-content/uploads/2010/03/Giono-Jean-O-Homem-Que-Plantava-%C3%81rvores.pdf
Link para crônica da Mario Casartelli ( http://www.ultimahora.com/notas/497790-Elogio-de-los-arboles
Adendo:
O legal de ter um blog é poder aprender coisas novas com os amigos que lêem o que você escreve.
Sobre esse texto das árvores, meu grande amigo Luiz Gustavo Givisiez disse-me que eu não precisava ter ido até o Camboja para ver as árvores prevalecendo sobre as construções e me enviou esta foto:
Segundo o Givisiez, vulgo Bacharel, trata-se das ruínas de uma igreja construída lá pelo século XVIII às margens do "Rio das Velhas", poucos quilômetros antes do encontro com o São Francisco. Fica num distrito chamado Barra do Guaicuí, no município de Várzea da Palma-MG (a 307 km de BH).
Incrível! Obrigado Bacha, grande conhecedor do Brasil, principalmente do sertão mineiro!
Valeu, Bacha!
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