segunda-feira, 24 de março de 2014

Correr sem saber o resultado


Ontem fui assistir a uma corrida feminina em Assunção e, na hora da premiação, foi aquele rolo. O sistema de cronometragem claramente não funcionou e começaram a premiar equivocadamente corredoras que chegaram depois das verdadeiras ganhadoras. Houve muita reclamação e resolveram, por fim, suspender a premiação até que resolvessem o problema todo. Isso também já havia me passado num duathlon aqui. Fui embora só imaginando minha colocação, sem saber exatamente como fui.
No Facebook da empresa que organizou a corrida, além de muitos protestos, há pessoas defendendo a empresa, afirmando que a corrida era apenas uma diversão e que as pessoas poderiam controlar seu próprio tempo. Esse debate me pareceu muito interessante. Realmente corremos só por resultados? Depende!
Neste mês participei de uma corrida beneficente em prol de uma corredora que está hospitalizada. Desde o começo, os organizadores afirmaram que a corrida era simbólica e que, por isso, não haveria premiação, apenas sorteio de brindes. Fiz minha melhor corrida em muito tempo, chegando em 5° lugar. Na chegada, nem premiação, nem linha de chegada, nem nada. É meio estranho, mas era o combinado e, sobretudo, era por uma ótima causa. Não era porque não haveria troféu que deixaria de dar meu melhor. Corri por resultado sim, mas não pelo reconhecimento dele.
Agora, é muito diferente quando você se prepara para uma prova competitiva, em que há premiação para as diversas categorias. Quem treina sabe o quanto visualisamos o dia da prova em nossa cabeça. Quando o corpo está pedindo arrego, nosso cérebro nos lembra que cada treinamento tem um motivo específico: você quer emagrecer, você quer completar uma prova, você quer baixar seus tempos ou você quer chegar entre os primeiros da corrida.
O erro de cronometragem não é apenas um detalhe numa corrida "muito divertida e bem organizada" (palavras de algumas corredoras) como foi a corrida feminina. Se você coloca pessoas para competir e as vende este produto, a falta de resultados é um desrespeito tremendo com quem se preparou. Mais desrespeito ainda é premiar quem chegou depois de você, como foi o que aconteceu ontem. 
Uma das participantes, que acho melhor não chamar de "corredora", afirmou até que era falta de humildade as pessoas reclamarem de não ter o resultado correto. Falta de humildade? Querer ganhar no esporte agora é ruim? Vamos todos ser humildes e correr mais devagar que o próximo...Acho que ela não entendeu bem o espírito das reclamações porque não sabe o quanto é frustrante ver seus objetivos perdidos por uma má organização da prova. 
A corrida é democrática justamente porque engloba todos os tipos de objetivo, desde apenas completar a prova até chegar entres os primeiros. Mas se você, organizador, quer atingir apenas o primeiro grupo, deixe isso claro na inscrição. 
Correr sem se preocupar com resultados também é legal, mas para mim funcionou por ser uma causa nobre. Sou corredor porque gosto de competir, mesmo que não chegue entre os primeiros.

terça-feira, 18 de março de 2014

Estreiando no Biathlon: Rei e Rainha do Mar 2014



 



Domingo foi dia de fazer as pazes com o mar. Depois da experiência não muito feliz da minha primeira travessia marítima (http://caipirajovem.blogspot.com/2013/12/fuga-das-ilhas-2013.html) , resolvi encarar de novo um desafio no mar como preparação pro Ironman 70.3 de Foz do Iguaçu, no final de agosto.
Inscrevi-me no Beach Biathlon do Rei e Rainha do Mar, no Rio, que teve 1,5K de natação e mais 2,5K de corrida na areia, saindo do posto 12 do Leblon e terminando no Arpoador. Foi uma ótima oportunidade para nadar de novo e testar minha corrida na primeira prova de esportes combinados da minha vida.
Tenho feito aulas de Crossfit e, em algumas delas, há treinamentos de resistência, que combinam exercícios físicos com tiros de corrida. Eles têm sido muito úteis para acostumar meu corpo a correr cansado. Para quem veio da corrida, como eu, e quer começar no triathlon, a idéia de iniciar a corrida já tendo feito outra atividade é completamente nova. Tenho treinado acostumar pernas e, principalmente, a cabeça, de que meu ritmo na corrida será outro daqui pra frente, não àquele de um corredor descansado na hora da largada da prova.
Antes da prova, tomei uma precaução que fez toda a diferença. Como havia passado muito mal na última travessia pelo enjôo que sofri no mar, consultei um médico sobre algo que poderia tomar. O remédio foi milagroso e não senti absolutamente nada desta vez. Nadar sem passar mal já foi uma vitória em si.
Desde a retirada dos kits, no sábado, o comentário geral é que teríamos prova com o mar bastante calmo, o que me aliviou. Depois de nadar numa “máquina de lavar” na Barra do Sahy, queria experimentar um mar calmo. Disseram até, em tom solene, que foram vistas baleias no mar do Leblon naquele dia. Não entendi a relação das baleias com a prova, mas confesso que nadei com aquilo na cabeça. Sempre quis nadar com uma baleia, mas e se ela me pegasse?
Na hora da largada, conferi chip, touca, óculos e vaselina, nas pernas e nos braços, para evitar a fricção na hora da natação e da corrida. Resolvi nadar de sunga, na verdade por falta de opção, mas muita gente nadou com roupa de natação e dizem que faz uma boa diferença. Preciso comprar uma, mas como diz aquele ditado pra quem começa no Triathlon: ”bem-vindo ao triathlon, agora vocês está falido”. O jeito é ir comprando os itens aos poucos.

Resolvi testar meus outros óculos desta vez, um mais parecido com uma máscara. Apesar de a recomendação ser utilizar óculos com vidro polarizado em dias de sol, fui com meu óculos de lente clara, porque para mim é mais fácil enxergar com ele. Já sou míope, aprendendo a me guiar no mar, e ainda ter que ver tudo meio escuro?!
Dada a largada, esperei o pelotão sair em disparada para depois encontrar calmamente meu lugar no mar. Outra mudança de hábito da corrida, em que gosto de sair sempre com o pelotão de frente. Na natação, se você não tem velocidade, sair na frente é participar de um festival de socos e pontapés, involuntários ou não.
Os primeiros metros até fazer a curva na bóia foram novamente duros. Nadar contra as ondas não é fácil e engoli muita água. Acontece de tudo nos metros iniciais. Você está rodeado de gente, o mar vem contra, seu corpo balança de mais, seu corpo ainda está processando que você vai começar uma atividade física. Uma confusão de sentimentos que mexe com a cabeça. Fiz uma coletânea das frases que meu cérebro me disse nesses metros iniciais da prova:
- Que m****, não consigo nadar mesmo no mar!
- B****, paguei caro na inscrição do ironman e não vou aprender a nadar até lá.
- Investi na bike e nunca serei um ironman! Talvez possa fazer umas provas de duathlon, vai ser divertido. É só bike e corrida, mais legal que nadar.
- Acho que vou desistir, é mais prudente. Pega nada, as pessoas não vão me julgar por isso.
Enquanto meu cérebro fazia esse jogo sujo, continuei nadando até alcançar a segunda bóia, quando a prova então virava uma linha reta até a última bóia, em que viraríamos em direção à praia pra começar a correr.
Em algum momento, que não sei explicar por que, comecei a curtir a prova. Olhava para os lados e o visual estava incrível. A visão do alto mar com muitas pessoas nadando ao seu redor é algo que recomendo para todos que gostam de esporte. É realmente de arrepiar e agradecer por estar ali.
A organização colocou, durante todo o trajeto, monitores da prova em stand up paddles, com cores bem chamativas. Eles foram ótimas referências para mim. Sem saber me direcionar muito bem ainda e sem ver as bóias de muito longe, conseguia me guiar pelos monitores e pelas pessoas ao meu redor. Fiquei feliz em ajudar um nadador que cruzou perpendicularmente meu caminho, mostrando a direção correta. Estava evoluindo!
Após cruzar a última bóia, era hora de chegar na praia e começar a correr. Me esforcei ao máximo para acelerar o nado nestes metros finais de natação e, quem sabe, ganhar umas posições pegando jacaré na onda. Lembrei de por em prática uma dica que vi num blog e tratei de movimentar meus pés e tornozelos circularmente para prepará-los para o impacto da corrida.
Fiz os 1,5K em 31 minutos. Fiquei feliz, porque era o que eu estava programando mesmo. Ainda tenho muito a melhorar, mas só de chegar inteiro na transição já foi uma alegria e tanto.
Correr depois de nadar e correr na areia são duas atividades que este caipira aqui ainda não havia feito na vida. As sensações eram duas basicamente: 1) agora é hora de tirar o atraso da natação e mostrar para que veio, vamos correr! 2) Esse corpo não é meu, essa perna não é minha, ta tudo doendo, quero correr mas esta areia não deixa!
Esses 2,5K na areia foram bem interessantes e um aprendizado muito importante, principalmente para a mente, que reclamou muito de o corpo não atingir a velocidade habitual que tenho na corrida.
Consegui ultrapassar bastante gente, poucos da minha categoria na verdade, que tem média de natação muito melhor que a minha e que eu não teria como compensar com essa quilometragem pequena de corrida. Fiz os 2,5K em pouco menos de 11 minutos.
Para mim, o mais importante do Rei e Rainha do Mar foi que me devolveu a confiança de nadar no mar. Pude realmente desfrutar da prova e fiquei com vontade de voltar e nadar distâncias maiores.
Fiquei muito impressionado com a organização e recomendo a segunda etapa, em agosto, para todos. Junto com o Biathlon, organizaram uma corrida de 5K na areia, provas de stand up paddle e provas de 1K, 2K e 3,5K de natação. Tudo com muito suporte, segurança e, claro, alegria.
Agora, volto a encontrar o oceano em abril, no X Terra Paraty, minha estréia no triathlon. Vamos que vamos!