Inscrevi-me no Beach Biathlon do
Rei e Rainha do Mar, no Rio, que teve 1,5K de natação e mais 2,5K de corrida na
areia, saindo do posto 12 do Leblon e terminando no Arpoador. Foi uma ótima
oportunidade para nadar de novo e testar minha corrida na primeira prova de
esportes combinados da minha vida.
Tenho feito aulas de Crossfit e,
em algumas delas, há treinamentos de resistência, que combinam exercícios
físicos com tiros de corrida. Eles têm sido muito úteis para acostumar meu
corpo a correr cansado. Para quem veio da corrida, como eu, e quer começar no
triathlon, a idéia de iniciar a corrida já tendo feito outra atividade é
completamente nova. Tenho treinado acostumar pernas e, principalmente, a
cabeça, de que meu ritmo na corrida será outro daqui pra frente, não àquele de
um corredor descansado na hora da largada da prova.
Antes da prova, tomei uma
precaução que fez toda a diferença. Como havia passado muito mal na última
travessia pelo enjôo que sofri no mar, consultei um médico sobre algo que
poderia tomar. O remédio foi milagroso e não senti absolutamente nada desta vez.
Nadar sem passar mal já foi uma vitória em si.
Desde a retirada dos kits, no
sábado, o comentário geral é que teríamos prova com o mar bastante calmo, o que
me aliviou. Depois de nadar numa “máquina de lavar” na Barra do Sahy, queria
experimentar um mar calmo. Disseram até, em tom solene, que foram vistas
baleias no mar do Leblon naquele dia. Não entendi a relação das baleias com a
prova, mas confesso que nadei com aquilo na cabeça. Sempre quis nadar com uma
baleia, mas e se ela me pegasse?
Na hora da largada, conferi chip,
touca, óculos e vaselina, nas pernas e nos braços, para evitar a fricção na
hora da natação e da corrida. Resolvi nadar de sunga, na verdade por falta de
opção, mas muita gente nadou com roupa de natação e dizem que faz uma boa
diferença. Preciso comprar uma, mas como diz aquele ditado pra quem começa no
Triathlon: ”bem-vindo ao triathlon, agora vocês está falido”. O jeito é ir
comprando os itens aos poucos.
Resolvi testar meus outros óculos
desta vez, um mais parecido com uma máscara. Apesar de a recomendação ser
utilizar óculos com vidro polarizado em dias de sol, fui com meu óculos de
lente clara, porque para mim é mais fácil enxergar com ele. Já sou míope,
aprendendo a me guiar no mar, e ainda ter que ver tudo meio escuro?!
Dada a largada, esperei o pelotão
sair em disparada para depois encontrar calmamente meu lugar no mar. Outra
mudança de hábito da corrida, em que gosto de sair sempre com o pelotão de
frente. Na natação, se você não tem velocidade, sair na frente é participar de
um festival de socos e pontapés, involuntários ou não.
Os primeiros metros até fazer a
curva na bóia foram novamente duros. Nadar contra as ondas não é fácil e engoli
muita água. Acontece de tudo nos metros iniciais. Você está rodeado de gente, o
mar vem contra, seu corpo balança de mais, seu corpo ainda está processando que
você vai começar uma atividade física. Uma confusão de sentimentos que mexe com
a cabeça. Fiz uma coletânea das frases que meu cérebro me disse nesses metros
iniciais da prova:
- Que m****, não consigo nadar
mesmo no mar!
- B****, paguei caro na inscrição
do ironman e não vou aprender a nadar até lá.
- Investi na bike e nunca serei
um ironman! Talvez possa fazer umas provas de duathlon, vai ser divertido. É só
bike e corrida, mais legal que nadar.
- Acho que vou desistir, é mais
prudente. Pega nada, as pessoas não vão me julgar por isso.
Enquanto meu cérebro fazia esse
jogo sujo, continuei nadando até alcançar a segunda bóia, quando a prova então
virava uma linha reta até a última bóia, em que viraríamos em direção à praia
pra começar a correr.
Em algum momento, que não sei
explicar por que, comecei a curtir a prova. Olhava para os lados e o visual
estava incrível. A visão do alto mar com muitas pessoas nadando ao seu redor é
algo que recomendo para todos que gostam de esporte. É realmente de arrepiar e
agradecer por estar ali.
A organização colocou, durante
todo o trajeto, monitores da prova em stand up paddles, com cores bem
chamativas. Eles foram ótimas referências para mim. Sem saber me direcionar
muito bem ainda e sem ver as bóias de muito longe, conseguia me guiar pelos
monitores e pelas pessoas ao meu redor. Fiquei feliz em ajudar um nadador que
cruzou perpendicularmente meu caminho, mostrando a direção correta. Estava
evoluindo!
Após cruzar a última bóia, era
hora de chegar na praia e começar a correr. Me esforcei ao máximo para acelerar
o nado nestes metros finais de natação e, quem sabe, ganhar umas posições
pegando jacaré na onda. Lembrei de por em prática uma dica que vi num blog e
tratei de movimentar meus pés e tornozelos circularmente para prepará-los para
o impacto da corrida.
Fiz os 1,5K em 31 minutos. Fiquei
feliz, porque era o que eu estava programando mesmo. Ainda tenho muito a
melhorar, mas só de chegar inteiro na transição já foi uma alegria e tanto.
Correr depois de nadar e correr
na areia são duas atividades que este caipira aqui ainda não havia feito na
vida. As sensações eram duas basicamente: 1) agora é hora de tirar o atraso da
natação e mostrar para que veio, vamos correr! 2) Esse corpo não é meu, essa
perna não é minha, ta tudo doendo, quero correr mas esta areia não deixa!
Esses 2,5K na areia foram bem
interessantes e um aprendizado muito importante, principalmente para a mente,
que reclamou muito de o corpo não atingir a velocidade habitual que tenho na
corrida.
Consegui ultrapassar bastante
gente, poucos da minha categoria na verdade, que tem média de natação muito
melhor que a minha e que eu não teria como compensar com essa quilometragem
pequena de corrida. Fiz os 2,5K em pouco menos de 11 minutos.
Para mim, o mais importante do
Rei e Rainha do Mar foi que me devolveu a confiança de nadar no mar. Pude
realmente desfrutar da prova e fiquei com vontade de voltar e nadar distâncias
maiores.
Fiquei muito impressionado com a
organização e recomendo a segunda etapa, em agosto, para todos. Junto com o
Biathlon, organizaram uma corrida de 5K na areia, provas de stand up paddle e
provas de 1K, 2K e 3,5K de natação. Tudo com muito suporte, segurança e, claro,
alegria.
Agora, volto a encontrar o oceano
em abril, no X Terra Paraty, minha estréia no triathlon. Vamos que vamos!