O mundo da natação sempre foi desconhecido para mim. Quando eu era bem criança, minha mãe foi me levar para a minha primeira aula e eu chorei tanto no caminho que ela desistiu. Lembro exatamente deste dia! Desde então, foram mais de duas décadas longe das aulas, mas de vez em quando nadando por recreação na piscina do clube ou em casa. Mesmo sendo fanático por esportes, nem nas olimpíadas eu me dedicava a ver as provas de natação.
Um joelho estourado depois da maratona e a vontade de começar a fazer triathlon mudaram esse panorama e me interessei a começar a nadar. O empurrão que faltava apareceu quando duas amigas me falaram da Fuga das Ilhas, uma prova de 1.5K que iria acontecer dali três meses. Se tem uma coisa de que gosto na vida esportiva é de desafio.
A primeira coisa que tinha que resolver era comprar material e me inscrever numa escola de natação. Coisas simples, mas que se você nunca fez na vida, viram um mistério. Depois de pesquisar, me matriculei numa escola infantil com aulas pra adultos e la fui eu pro primeiro treino.
Logo na primeira aula achei que a meta a que tinha me proposto, de nadar 1.5k, estava muito longe da minha realidade. Não consegui nem fazer 50 metros direto na piscina, mas daí lembrei que nos primeiros treinos de corrida as distâncias maiores pareciam também inalcançáveis e resolvi confiar no que o treinador dizia.
Depois de 3 meses de treino, chegou o dia da travessia . O que ajudou na minha confiança foi ter nadado 1.5k direto na piscina duas semanas antes, provando que seria possível cumprir aquela meta. Eu só tinha esquecido de um detalhe: me sinto muito mal no mar!
Já tinha lido bastante sobre as diferenças entra nadar no mar e na piscina, mas por algum descuido não me fixei no fato de que o mar me deixa tonto, passando mal e com vontade de vomitar. Fui lembrar disso apenas na hora da prova, quando tivemos que nadar uns 200m para a balsa que nos leva para a ilha, de onde começa a travessia.
Já na balsa comecei a sentir bem mal e foi inevitável lançar ao mar parte do café da manhã. Para economizar a nojeira deste post, comento logo que repeti a cena no mínimo 8 vezes durante a prova. Isso enquanto nadava! Por um lado, foi ruim perceber que nadar no mar me faz tão mal e que terei que treinar bastante esse ponto se quero mesmo um dia fazer Ironman. O lado bom é que o fato de ter passado tão mal e não ter desistido me fez provar mais uma vez que desistir não é uma opção. Acho que ter jogado rugby, mesmo com dor, me tornou mais tolerante para continuar até o fim das provas mesmo me sentindo muito mal. Foi o mesmo que ocorreu nos quilômetros finais quando corri uma maratona. A vontade era parar, ir pra casa e comer pipoca no sofá, mas pensava em tudo o que tinha feito para estar ali onde estava e não conseguia pensar em desistir. A Iza, que me acompanhou a travessia o tempo todo mostrando o caminho, dizia que estávamos chegando para me animar e eu acreditei nela, mesmo vendo a praia tão longe de onde estava rs.
O que me aliviou foi saber que entre os participantes foi unânime a opinião de que o mar estava muito mexido naquele dia. Soube posteriormente, também, que a distância marcada pelos gps dos atletas apontava algo como 2k. Claro que isso varia porque há dificuldade em nadar em linha reta na água, o que faz com que cada um tenha nadado uma distância particular. Segundo o site da travessia, meu tempo foi de 48 min. Muito mais do que eu esperava, mas fiquei muito feliz de ter completado.
Eis algumas conclusões a que cheguei:
Antes da prova
- Muita gente reclamou da infra-estrutura de banheiro e estacionamento. Realmente o espaço da praia não é tão bom para receber tanta gente de carro, mas nada que chegar mais cedo não resolva.Ou então pagar os 50 reais cobrados pelos estacionamentos.
- Clima muito bom entre os participantes. Muito parecido com aquele das corridas de rua, com muita gente animada e de corpo bonito, com a diferença de que na natação eles ficam de roupa de banho.
- Fiquei observando a organização de um evento desse porte. Realmente é admirável! Se você for buscar no FB, verá muita gente reclamando, mas eu acho sensacional alguém que consiga organizar uma prova tão bacana, que envolve aluguel de 8 balsas, montagem de infra-estrutura na praia, cronometragem de tempo, resgate e apoio no mar e distrubuição de prêmios e medalhas a todos.
- O lugar é lindo! Antes da prova fiquei pensando como era privilegiado de poder competir naquela praia. Um das coisas de que mais gosto na corrida é justamente o fato de ser em espaço aberto, que me permite aproveitar a cidade. Neste caso, ver aquele pedaço de mar reservado para o esporte foi muito legal!
Durante a prova
- Eu estava reticente de ter que nadar acompanhado, mas minhas treinadoras não me deixaram ir sozinho por ser minha primeira travessia. Foi a melhor decisão! Foi muito difícil nadar e me orientar ao mesmo tempo e graças à Iza pude me concentrar apenas em nadar (e sobreviver aos enjoos rs). Vi muita gente nadando pro lado e até pra trás e foi importante não gastar energia nadando pro lado errado.
- O começo é realmente tumultuado. Impossível não esbarrar em alguém ou levar uma bordoada. É ruim porque era mais uma coisa para me concentrar: nadar, sobreviver aos enjoos, olhar a direção e tentar não bater em alguém ou não atrapalhar quem quisesse ir rápido. Muito parecido com o inicio de corridas de rua muito cheias, mas com o adicional de que na água você não vê bem a pessoa do lado e não deve parar o movimento.
- Passada a fase inicial, comecei a sentir o drama da força do mar. A sensação era de que eu estava nadando numa máquina de lavar. Meus óculos escuros me impediam de enxergar bem e durante uns 20 minutos minha natação foi uma confusão, o que me fez ter muitos enjoos e começar a vomitar.
- Nessa parte da travessia, já podia ouvir pessoas pedindo auxílio dos barcos. Nesse momento, foi importante manter o psicológico focado em nadar. Para quem nada sempre deve ser normal ouvir isso, mas confesso que não foi muito natural para mim ouvir gente pedindo auxílio no meio do mar. Era justamente no momento em que eu estava pior e o mar muito forte então mexeu um pouco com o psicológico. Resolvi continuar nadando. Lembrei do que ultramaratonista Scott Jurek fala no livro dele: tem horas que você apenas tem que continuar fazendo o que está fazendo, sem pensar muito.
- Quando finalmente resolvi nadar sem óculos, tudo melhorou. Olhei pro lado e a cena foi muito bonita. Várias pessoas nadando em pleno mar, com um visual sensacional. Consegui manter o caminho reto e neste momento as ondas já estavam ajudando a chegar mais perto da praia.
- Uma alegria tremenda quando consegui pegar um jacaré! Economizou um bom tempo de braçada, mas depois veio uma onda maior ainda e meu deu um caldo que virei de ponta cabeça. Nessa hora pensei: ok Jesus, desisto, pode me levar!
- Terminei a prova com momento de muita alegria ao pisar da areia e voltar a caminhar. Havia gente da organização esperando os participantes e oferecendo ajuda médica para quem chegou cambaleando como eu!
Apesar de todo o perrengue, minha sensação é de que quero ir na próxima. A natação tem sido um ótimo substituto para minhas corridas e adorei o clima da competição. Só preciso discutir o relacionamento direitinho com o mar na próxima vez.
Deixo aqui meu agradecimento à Amanda e a Izabela que me incentivaram desde o começo a treinar! Com a Iza me ajudando pude completar a prova e, se tenho alguma dica pra dar para quem fará sua primeira travessia, é: vá com alguém experiente! Obrigado treinadoras!
Por fim, deixo vídeo do Luiz Lima que vi antes da prova e me serviu de inspiração:
http://www.youtube.com/watch?v=fx06-zvjCeQ
Logo na primeira aula achei que a meta a que tinha me proposto, de nadar 1.5k, estava muito longe da minha realidade. Não consegui nem fazer 50 metros direto na piscina, mas daí lembrei que nos primeiros treinos de corrida as distâncias maiores pareciam também inalcançáveis e resolvi confiar no que o treinador dizia.
Depois de 3 meses de treino, chegou o dia da travessia . O que ajudou na minha confiança foi ter nadado 1.5k direto na piscina duas semanas antes, provando que seria possível cumprir aquela meta. Eu só tinha esquecido de um detalhe: me sinto muito mal no mar!
Já tinha lido bastante sobre as diferenças entra nadar no mar e na piscina, mas por algum descuido não me fixei no fato de que o mar me deixa tonto, passando mal e com vontade de vomitar. Fui lembrar disso apenas na hora da prova, quando tivemos que nadar uns 200m para a balsa que nos leva para a ilha, de onde começa a travessia.
Atrás se pode ver a ilha na Barra do Sahy, de onde parte a travessia de 1.5K em direção a praia. |
O que me aliviou foi saber que entre os participantes foi unânime a opinião de que o mar estava muito mexido naquele dia. Soube posteriormente, também, que a distância marcada pelos gps dos atletas apontava algo como 2k. Claro que isso varia porque há dificuldade em nadar em linha reta na água, o que faz com que cada um tenha nadado uma distância particular. Segundo o site da travessia, meu tempo foi de 48 min. Muito mais do que eu esperava, mas fiquei muito feliz de ter completado.
Eis algumas conclusões a que cheguei:
Antes da prova
- Muita gente reclamou da infra-estrutura de banheiro e estacionamento. Realmente o espaço da praia não é tão bom para receber tanta gente de carro, mas nada que chegar mais cedo não resolva.Ou então pagar os 50 reais cobrados pelos estacionamentos.
- Clima muito bom entre os participantes. Muito parecido com aquele das corridas de rua, com muita gente animada e de corpo bonito, com a diferença de que na natação eles ficam de roupa de banho.
- Fiquei observando a organização de um evento desse porte. Realmente é admirável! Se você for buscar no FB, verá muita gente reclamando, mas eu acho sensacional alguém que consiga organizar uma prova tão bacana, que envolve aluguel de 8 balsas, montagem de infra-estrutura na praia, cronometragem de tempo, resgate e apoio no mar e distrubuição de prêmios e medalhas a todos.
- O lugar é lindo! Antes da prova fiquei pensando como era privilegiado de poder competir naquela praia. Um das coisas de que mais gosto na corrida é justamente o fato de ser em espaço aberto, que me permite aproveitar a cidade. Neste caso, ver aquele pedaço de mar reservado para o esporte foi muito legal!
Durante a prova
- Eu estava reticente de ter que nadar acompanhado, mas minhas treinadoras não me deixaram ir sozinho por ser minha primeira travessia. Foi a melhor decisão! Foi muito difícil nadar e me orientar ao mesmo tempo e graças à Iza pude me concentrar apenas em nadar (e sobreviver aos enjoos rs). Vi muita gente nadando pro lado e até pra trás e foi importante não gastar energia nadando pro lado errado.
- O começo é realmente tumultuado. Impossível não esbarrar em alguém ou levar uma bordoada. É ruim porque era mais uma coisa para me concentrar: nadar, sobreviver aos enjoos, olhar a direção e tentar não bater em alguém ou não atrapalhar quem quisesse ir rápido. Muito parecido com o inicio de corridas de rua muito cheias, mas com o adicional de que na água você não vê bem a pessoa do lado e não deve parar o movimento.
- Passada a fase inicial, comecei a sentir o drama da força do mar. A sensação era de que eu estava nadando numa máquina de lavar. Meus óculos escuros me impediam de enxergar bem e durante uns 20 minutos minha natação foi uma confusão, o que me fez ter muitos enjoos e começar a vomitar.
- Nessa parte da travessia, já podia ouvir pessoas pedindo auxílio dos barcos. Nesse momento, foi importante manter o psicológico focado em nadar. Para quem nada sempre deve ser normal ouvir isso, mas confesso que não foi muito natural para mim ouvir gente pedindo auxílio no meio do mar. Era justamente no momento em que eu estava pior e o mar muito forte então mexeu um pouco com o psicológico. Resolvi continuar nadando. Lembrei do que ultramaratonista Scott Jurek fala no livro dele: tem horas que você apenas tem que continuar fazendo o que está fazendo, sem pensar muito.
- Quando finalmente resolvi nadar sem óculos, tudo melhorou. Olhei pro lado e a cena foi muito bonita. Várias pessoas nadando em pleno mar, com um visual sensacional. Consegui manter o caminho reto e neste momento as ondas já estavam ajudando a chegar mais perto da praia.
- Uma alegria tremenda quando consegui pegar um jacaré! Economizou um bom tempo de braçada, mas depois veio uma onda maior ainda e meu deu um caldo que virei de ponta cabeça. Nessa hora pensei: ok Jesus, desisto, pode me levar!
- Terminei a prova com momento de muita alegria ao pisar da areia e voltar a caminhar. Havia gente da organização esperando os participantes e oferecendo ajuda médica para quem chegou cambaleando como eu!
Detonado, mas com medalha no peito #zuadomassemparecervulgar |
Deixo aqui meu agradecimento à Amanda e a Izabela que me incentivaram desde o começo a treinar! Com a Iza me ajudando pude completar a prova e, se tenho alguma dica pra dar para quem fará sua primeira travessia, é: vá com alguém experiente! Obrigado treinadoras!
Iza, Amanda e eu com nossas medalhas. Amanda ganhou o 1° Lugar Geral Feminino! |
Vitão completando a equipe Nada Caipira! |
Medalha do Fuga das Ilhas fazendo companhia para as de corrida |
Por fim, deixo vídeo do Luiz Lima que vi antes da prova e me serviu de inspiração:
http://www.youtube.com/watch?v=fx06-zvjCeQ
PC essa é minha paixão a mais de 20 anos.. "conto muito azulejo" nas piscinas, mar só de vez enqundo, como mineiro além de não ter mar na infancia, provas muito caras.. Não li seu texto ainda.. mas logo arrumo tempo.. tó mt curioso.. abraço
ResponderExcluirEu to gostando muito também Guilherme!
ResponderExcluirPC rumo ao Ironman! Parabéns, amigo!
ResponderExcluir