Esta semana estava assistindo a um jogo de
basebol e, como sempre, o time para o qual eu torcia perdeu. Fiquei com aquilo
na cabeça. Por que será que sempre escolho o time mais fraco pra torcer?
Pergunte a uma criança, durante uma partida, para
qual time ela está torcendo e a resposta será simples: para o que está
ganhando!
Claro, por que alguém torceria pra algo que vai perder? Viva a
resposta das crianças!
Tenho um amigo que se diz torcedor do Barcelona. Quando
ele nos contou isso, demos muita risada da cara dele, porque como alguém de São
José pode se dizer torcedor do Barcelona?! Mas no fundo, a resposta dele se
assemelha a das crianças: se no esporte só existe a opção ganhar ou perder, por
que perder meu tempo torcendo por um time que não tem as mesmas glórias do time
catalão?
Fui procurar um pouco sobre a psicologia do
torcedor e encontrei o conceito de BIRGing (Basking in reflected glory), que
nada mais é do que a associação que um indivíduo faz com o sucesso de
outro de tal maneira que aquele sucesso seja sentido como seu também. Esse
termo foi estudado com base no comportamento de universitários norte-americanos
após as partidas de futebol americano dos seus times. Na segunda-feira após os
jogos, se o time ganhava, várias pessoas iam estudar com a camisa do time; se
perdia, ninguém vestia peças associadas ao time. O que os alunos procuravam era
se vincular ao sucesso do clube, mesmo que não tenham exercido nenhuma
influência sobre o resultado. Isso não é novidade pra ninguém, é o que
fazemos sempre quando nosso time de futebol ganha. No fundo, tem a ver com a
auto-estima do torcedor. Se o Palmeiras ganha do Corinthians, o Fulano que é
palmeirense, mesmo que não saiba fazer 2 embaixadinhas e o amigo corintiano
seja um craque, vai se sentir melhor que o rival, porque escolheu 11 caras para
jogar e ter a glória por ele, o que não a conseguiria alcançar pelos próprios
meios.
O BARGing não serve só para esportes, mas para
todo tipo de associação. Se você usa uma camisa da banda X, quer ser associado
ao sucesso daquela banda, mesmo sem saber tocar uma campainha que seja. Se você
põe uma foto sua com um famoso no Facebook, que ser vinculado ao sucesso que
aquele famoso obtém na profissão. Eu, por exemplo, parei de jogar rugby, mas
tenho o adesivo do meu time no carro, para me sentir vitorioso quando o time
ganha, mesmo sem ter dado um tackle no jogo.
Por que será que ficamos tão bravos quando o
Brasil perde na Copa do Mundo ou um atleta brasileiro vai mal nas Olimpíadas?
Porque nossa auto-estima como brasileiros foi duramente afetada. Acreditamos
que os estrangeiros não nos verão (a todos brasileiros por associação) como
vencedores, assim como gostaríamos de transparecer pro mundo.
Não sou psicólogo, mas acredito que quanto menor
a auto-estima da pessoa, mais ela depende da glória alheia para sentir-se bem
e, conseqüentemente, mais fanático e intolerante ele se torna com a derrota.
Por exemplo, nas últimas olimpíadas, reparei que os amigos que mais criticavam
as "amareladas" dos atletas brasileiros eram justamente aqueles que
menos habilidade tinham nos esportes. Faz sentido: não sabendo fazer nada no
âmbito esportivo, mais eles dependiam de que alguém desempenhasse um bom papel
para poder sentir uma glória.
Será que não ocorre o mesmo no futebol? Acredito
que sim. Se sua "vida" e alegria de viver dependem da vitória de um
time, acho que há algo de errado com a sua vida. A auto-estima não pode ser tão
baixa a ponto de depender da vitória alheia para ser feliz. Há pessoas,
inclusive, que se tornam violentas durante o jogo, tamanho o medo de se ver
diminuído socialmente no dia seguinte caso o time não vença.
Eu já me peguei fazendo este exercício várias
vezes. Quando meu time perdia, começava a lembrar das coisas boas da vida:
"tenho uma família feliz", "meu filho me ama", "tenho
saúde", "tenho emprego", tudo para bombar a auto-estima e me
fazer relevar a frustração que os 11 caras me proporcionaram ao não ganhar do
time rival.
Ok, já entendi essa historia de BARGing, mas por
que então torcemos para times que não ganham?
Segundo a Dra. Sandy Wolfson, da Universidade de
Newcastle, de cuja entrevista tirei boa parte do que escrevi, torcemos para um
time mesmo que ele perca porque queremos provar que somos melhores torcedores
do que os outros e, conseqüentemente, melhores pessoas, segundo nossa
auto-estima. Pela falta de glórias, é muito mais difícil torcer pro São José do
que pro Barcelona; logo, sou melhor "torcedor" do que aquele meu
amigo, porque permaneço fiel, vou mais ao estádio, assisto mais aos jogos,
etc.. É o que ela chama de "superioridade ilusória", que possuímos
aos sentirmos como parte de um grupo que consideramos especial. Quem nunca viu
um torcedor com a camisa do seu time na rua mesmo depois de uma derrota
devastadora? Ele simplesmente quer passar conceitos de fidelidade, coesão de
grupo, enfrentamento de adversidades com a cara erguida, etc..Uma das grandes
acusações contra os torcedores do São Paulo é justamente esta, de que não vão
aos estádios, só quando o time está bom. A intenção dos rivais é provar que são
piores torcedores e não deveriam se orgulhar de ser sãopaulinos.
Como esporte não é simplesmente ganhar ou perder,
a associação à certo time também está relacionada a outros conceitos que não
apenas glórias ou fracassos. No meu caso, como o próprio nome do blog diz,
gosto de associar-me à cultura caipira, do homem do interior. Por isso, acabo
torcendo pros times que têm mais a ver com esse conceito. Geralmente, esses
times não têm o mesmo poderio econômico e esportivo dos clubes das cidades
grandes e, assim, dificilmente ganham alguma coisa. Mesmo assim, no meu
inconsciente, devo acreditar que vale a pena torcer para eles, pois, quando
ganham, é uma verdadeira vitória do David contra o Golias, vitória a qual
gostaria de me associar.
Respondidas as minhas inquietações esportivas
sobre meu pé-frio, deixo a entrevista da professora Wolfson para quem quiser
saber mais sobre o assunto: