Sempre achei as pessoas que
não gostavam de futebol muito chatas, até que me tornei uma delas. Futebol,
assim como algumas crenças, não se presta muito à racionalização. Há que se ter
fé, acompanhar com o coração, porque do contrário você para de seguir. E eu
resolvi pensar. Depois que meu filho nasceu parei de me importar com o futebol
como fazia antigamente. Lembro de uma vez estar no hospital com ele e assistir
na tv da sala de espera o São Paulo ser campeão da Libertadores, um dos meus
maiores pesadelos. Naquele momento vi que se a bola do adversário entrasse ou
não no gol dos malas dos são-paulinos era muito menos importante do que eu
estava vivendo ali. Agradeço sempre por esse dia, quando aprendi que momentos com pessoas queridas valem muito mais que uma partida de
futebol.
A recente briga entre
torcedores da Gaviões e da Mancha me fez acreditar ainda mais que fiz uma boa
escolha. Não consigo entender como uma pessoa de origem humilde, que ganha pra
sobreviver, chega ao ponto de matar e morrer por um resultado que só pode ser
mudado por jogadores que ganham centenas de milhares de reais e que, na
verdade, pouco se importam com o resultado, caso contrário sairiam abatidos de
campo, o que ocorre em raras exceções.
Este texto parece aquele papo
de babaca "qual é a graça de 22 homens correndo atrás de uma bola".
Em certa medida é, mas não tão babaca assim. Temos que pensar o que queremos do
futebol. Diversão ou fanatismo? Eu me libertei e hoje tenho uma vida muito mais
tranqüila sem me importar se o Palmeiras ganhou ou perdeu.
Outra notícia recente foi a
discussão sobre a proibição de cervejas nos estádios durante a Copa, pelo risco
da violência. Não poder tomar cerveja no estádio é o atestado de óbito da
diversão no futebol. Agora vamos todos pra brigar e xingar, não para torcer e
se divertir. Proibir a cerveja no estádio é como proibir a pipoca no cinema. Os
estádios vazios deixam muito claro que o futebol deixou de ser uma opção de
lazer viável para as famílias, infelizmente.
Agora, não gostar de futebol é
um desafio e tanto. O papo sempre descamba pra futebol e se você não emitir uma
opinião você vira chato. O problema é que eu ando muito perdido no assunto, não
sei nem que são os jogadores mais. Gosto, no entanto, dos papos exóticos, como
aqueles do “Loucos por Futebol”. Saber nomes de times, estádios, curiosidades
históricas, isso tudo ainda me diverte, mas se o Zezinho deveria jogar de
meia-esquerda ou de volante, para isso eu estou pouco me lixando. Esses papos de
mesa redonda me dão nos nervos. Há uma paródia do Marcelo Adnet que resume bem
as discussões sobre futebol:
Outro fenômeno atual é o "Aqui é Curtintia" no Facebook. Basta ter um jogo mais importante que no mural do facebook aparece uma infinidade de gente se vangloriando pela vitória do time pelo qual torce. O pior é que essas pessoas não apenas comemoram, mas querem diminuir os que torcem para os outros times o tempo todo. É aquela teoria: olhem só, meu time é melhor, sou melhor que você, meninas gostem de mim porque o time pelo qual torço é melhor..... As pessoas se sentem superiores sem terem feito, ao menos, um golzinho com os próprios pés. Esses dias veio um cara conversar comigo com aquele papo de tiozão de churrasco e passou o tempo todo zuando o Palmeiras, me provocando porque o Palmeiras perdeu pra sei lá quem. Já estava de saco na lua até que falei pra ele: Amigo, eu não joguei, não pude fazer nada pro Palmeiras ganhar, estou aqui no Paraguai, e o fato do seu time ser melhor não faz a menor diferença na minha vida.
Desagradei, mas não ouvirei mais "e o seu Palmeieras, ein?".
Por fim, sábias palavras do grande Marcos:
* Nota: Todo esse meu papo não vale quando o assunto é o São José.