quinta-feira, 15 de março de 2012

O Rugby e a Diplomacia


 



    Em discurso na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, comparou o rugby à diplomacia. O SG da ONU estava no país para participar do encontro de líderes dos países insulares do Pacífico, reunião marcada "coincidentemente" junto com o início da Copa de Mundo de Rugby.
    Moon afirmou que o rugby e a diplomacia, apesar de não parecer, têm coisas em comum. Segundo ele "no rugby você perde o dente; na diplomacia, a face". A frase, que soa estranho em português, vem da expressão inglesa muito utilizada no mundo diplomático "to lose face", que significa algo como "perder o status ou ser menos respeitado pelos demais ao agir de maneira incorreta".
    O Secretário Geral continuou suas comparações: "No rugby, o scrum confunde qualquer um que não conheça o jogo. Assim também ocorre com os debates da ONU. Às vezes os dois parecem muito similares." Concordo plenamente, apesar de achar o scrum muito mais compreensível do que os debates da ONU.
    Em tom mais sério, afirmou que vê, no rugby, valores e um estilo de vida bem úteis para o mundo da diplomacia: trabalho em equipe, respeito mútuo, solidariedade, garra e determinação.
    Se a guerra é a continuação da diplomacia por outros meios, o rugby é a realização de uma batalha por meios mais diplomáticos. Apesar do contato físico intenso na defesa e conquista do território, o rugby se vale de regras extremamente rígidas no que se refere às agressões. O respeito às regras pré estabelecidas e a rigidez no trato com o árbitro, necessários para evitar que o esporte descambe para a violência, são componentes que faltam na sociedade internacional. Se a ONU tivesse o poder de um juiz de rugby e não de um de futebol, para o qual todos correm reclamando, haveria certamente menos desordem nas relações internacionais.
    Por falar em rugby e diplomacia, o esporte já prestou importante papel nas relações internacionais. No livro "Esporte, Poder e Relações Internacionais", o diplomata Douglas Wanderley de Vasconcellos discorre sobre a conclamação que fez a ONU, em 1976, aos países membros para cortaram relações esportivas com a África do Sul devido ao regime de segregação racial. A seleção de rugby da Nova Zelândia, no entanto, não respeitou o pedido e fez excursão ao país, o que levou os outros países do continente africano a pedirem a exclusão da ilha do Movimento Olímpico Internacional. Por não terem sido atendidos, os países africanos boicotaram os jogos olímpicos de 1976, realizados em Montreal. O final do regime da apartheid e a volta da África do Sul ao cenário esportivo mundial ficaram nacionalmente conhecidos com o filme Invictus.
    Na útlima Copa do Mundo de Rugby, realizada na Nova Zelândia, o imbróglio diplomático foi causado pela possível presença de jogadores militares na seleção de Fiji, país comandado por uma ditadura militar não reconhecida pela Nova Zelândia. 
    A parte mais interessante sobre rugby no livro citado anteriormente, no entanto, são as cartas do Barão do Rio Branco sobre o rugby. Seu filho, Paulo do Rio Branco, jogou no Stade Français e permanece até hoje como o jogador de rugby brasileiro mais bem sucedido no exterior, com 6 títulos de campeão francês. Vamos a frase do Barão sobre o rugby, que consta de carta escrita em 1896: "Esse gênero de esporte deveria ser introduzido no seu Rio Grande, em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, onde o clima permite tais exercícios”. Para quem era craque em disputa de territórios e demarcação de fronteira, nada mais natural do que a admiração pelo rugby. Ainda que de forma indireta, hoje o Barão veria seu nome num dos principais time de rugby do Brasil, o Rio Branco, de São Paulo.
    Sobre seu filho, descreveu o patrono da diplomacia, na carta encontrada pelo autor do livro: "Meu filho Paulo, estudante de Medicina, é o arrière (zagueiro) da equipe francesa, sendo tido como o melhor do país. No mundo dos esportes atléticos, aqui, chamam-no Da Sylva, estando-lhe confiada a última defesa do campo quando os ingleses forçarem – como hão de forçar – as três linhas de avantes, demais e trois-quarts. Ontem o Paulo atirou ao chão todos os ingleses que pôde, até cansar, mas eles são muito superiores aos franceses em disciplina e na arte de passar o balão. Aquele que era atirado ao chão pelo Paulo lançava o balão a outro inglês muito distante, e este, sem encontrar franceses, porque todos perseguiam o primeiro, fazia o ponto."
    Pela carta, pode-se depreender que Paulo jogava de fullback, numa época em que o rugby tinha uma cara diferente da atual.
   Termino o texto com um link para uma reportagem do SPORTV sobre o projeto do Rugby sem Fronteiras, instituição argentina que organizou uma partida entre argentinos e os habitantes das Malvinas.

3 comentários:

  1. Ainda há aquela velha história que dizem que India e Pakistan ainda não se explodiram mutuamente graças ao Cricket.
    Muito bom! Paz e diplomacia através do esporte, é o caminho. Um dos, pelo menos.

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