Eu e o Jovem |
Uma das primeiras lembranças que tenho da infância foi o dia em que aprendi a andar de bicicleta. A rua cheia da molecada do bairro jogando folhas pro alto, meu pai dando o empurrão inicial e aquele misto de adrenalina, aventura e felicidade que sentimos neste momento tão especial nas nossas vidas. Lembro direitinho daquela chuva de folhas secas na rua, porque o mais novinho da turma estava andando sem rodinha pela primeira vez.
Desde essa minha primeira bicicleta, todo pneu furado e peça quebrada eram arrumadas na bicicletaria do "Jovem". Na verdade, nunca soube o nome do estabelecimento, mas chamávamos assim porque o seu Pedro, dono da bicicletaria, chama a todos de jovem. Teve uma época que desconfiei que meu pai ia lá só pra ser chamado de jovem.
Quando comprei a primeira bicicleta pro meu filho, fui com meu pai e ele na bicletaria do jovem arrumar. Foi um encontro geracional muito emocionante.
Nesta época, ainda ficava numa esquina apertada, com bikes saindo pela janela. Lá de dentro, em meio a peças e bicicletas, emergia o seu Pedro, com sorriso nipônico de felicidade, chamando nós três de jovens.
No último ano, com a volta da minha paixão por bikes, voltei a frequentar mais constantemente a bicicletaria, que havia se mudado para duas esquinas aos lado, num lugar mais amplo.
Seu Pedro arrumou a bicicleta pro meu primeiro triatlhon e também pra prova de 6h de mountain bike que participei. Adorava ouvir as histórias das provas longas e falava "cê é louco, jovem", apesar dele mesmo já ter ido pra Caraguá e Campos do Jordão de bicicleta.
Na última vez que fomos lá, levei meu irmão, que não lembrava de lá, pra montar a bicicleta nova dele e ele ficou maravilhado. Voltou mais umas duas vezes. O Seu Pedro, no entanto, já havia dito que se mudaria, pois estavam assaltando muito no bairro.
Hoje, quando fomos de novo, eu, meu irmão e meu filho, nos deparamos com um recado na porta, que quebrou nosso coração. O Jovem encerrou as atividades depois de 20 anos. A melancolia tomou conta do carro, e rumamos pra arrumar a bike na Decathlon, entregues ao capitalismo da loja gigante, com saudade da tradicional bicicletaria do bairro.
O recado na porta |
Ale e sua bike da Decatlhon, onde aprendeu a andar sem rodinha em em meio a prateleiras de produtos |
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