segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ao meu querido tio Waltão



             
                  Quando criei este blog o fiz com a intenção de falar apenas de episódios alegres e felizes. Pensei muito se deveria escrever aqui sobre a despedida inesperada do meu querido tio Waltão. Cheguei a conclusão que deveria sim escrever, pois apesar de o falecimento ser dolorido, se tem uma palavra que definiu meu tio desde as minhas primeiras lembranças da infância foi a alegria.
                  Estes dias, ao colocar essa foto acima na internet, ia escrever a legenda "o tio mais querido da família",  mas pensei que seria um pouco deselegante com os outros. Não se passaram nem alguns minutos quando meu outro tio também colocou uma foto do Waltão com a legenda "o membro mais querido da família". E assim viveu meu tio, sendo o mais querido e amado por todos.
                Segundo nos contava, ele tinha sido "feito no navio", enquanto meus avós vinham da Itália para viver no Brasil. Era divertido ouvir essa história. Hoje ela faz todo sentido. Uma pessoa tão especial assim não pode ter sido concebida em terra firme, como todo mundo. Foi certamente no mar, no meio da viagem de mudança de vida de seus pais que, sem saber, trariam ao mundo um filho que mudou a vida de todos que o conheceram, de um jeito especial e único.
                Duvido que alguém já tenha ouvido a frase: "E o Waltão, como está?", sem que a pessoa que perguntou tenha um largo sorriso no rosto. Sempre que perguntavam dele era com alegria. E assim será para sempre. Sempre que nos lembrarmos dele, será pela mais pura felicidade que o ser humano pode transmitir.
                   Lembro de quando era pequeno e íamos visitá-lo em Taubaté e que descobri que poderia perguntar qualquer coisa do passado que o Waltão saberia. Se não soubesse, a resposta que ele dava com um largo sorriso no rosto era suficiente para me alegrar. Da última vez que fui visitá-lo em Taubaté, meus olhos se encherem de lágrimas ao ver o Alexandre descobrindo no tio-avô a mesma alegria, admiração e carinho. Lembro exatamente do diálogo:
                  - "Wartão", quanto é infinito vezes infinito?
                  - Hummm não sei, não aprendi matemática.
             E o ambiente se encheu de risada, como acostumava acontecer. Guardarei esse momento mágico para sempre. A descoberta pelo Lele de que o Waltão era especial, não pelas dificuldades que tinha, mas pela pessoa que era e sempre será.
                 Foi-se o maior contador de histórias que já conheci. E como eu gostava delas. Seu nome, Santos Emilio Walter Rotella, dizia que saiu de uma discussão etílica entres os parentes para ver quem escolheria o nome de batismo. Acabou ficando com três. Imagino como deve ter sido acirrada a disputa para nomear alguém tão único neste mundo. Um nome só realmente não bastaria.
                  Esse final de semana, quando chegou ao céu, certamente pediu a Deus para voltar à década de 1960, para ver o futebol amador de Itajubá, os bailes de carnaval do Itajubense, ver o Santos de Pelé, a Brigitte Bardot e tantas outras coisas que amava do passado. Encontrou seu irmão mais velho e seus pais. Está feliz, como sempre esteve. Poderá pedir de volta ao Garrincha aquele cigarro que diz ter emprestado ao ídolo no bar do Vadinho. Verá Puskas novamente com a bola e tantos outros jogadores do passado cujos nomes conheci pela sua memória incrível.
                   É duro entender por quê ocorrem essas idas inesperadas. Parece ironia saber que Waltão peito-de-aço, como era chamado quando jovem, morreu do coração. Mas o que conforta é saber que o coração sempre foi a parte mais linda do meu tio. Tenho pra mim que ele vivia com o coração. Quem mais hoje em dia dá bom dia com um sorriso quando encontra um estranho? Ou faz uma verdadeira festa para cada reencontro? Só tendo muito coração para rir tanto da vida apesar das adversidades cognitivas que a vida o impôs.
                     Minha história preferida que ele contava era das vezes que "voltou a ser criança". Foram duas: uma, quando era mascote do Azurra; outra, quando inesperadamente voltou a ser criança quando sua mãe ligou a TV no Jornal Nacional...
                     Querido Tio Waltão, nesse sábado você foi criança pela terceira vez. Nasceu de novo e agora vive no coração de cada um que te encontrou nesta vida. Sempre te amaremos.

Foto tirada pelo meu tio Julio